E entre tantas conversas sobre a injustiça da vida, do que não se espera, do incompreensível, ouvi “ainda bem que o bebé não nasceu, que dor ficar sem mãe tão pequeno, como seria difícil para aquele marido (pai) criar o filho”.
E disse eu, de rajada, “ainda mal”. Logo me vindo à memória um período difícil que vivi pouco depois de ter casado.
Sou filha única.
Coube-me a mim receber sozinha o amor imenso dos meus pais, as suas
expectativas, os seus planos.
Saí pela primeira vez
de casa dos meus pais quando casei. Os preparativos do casamento, a felicidade
pós lua-de-mel, a vida nova, tão nossa encheram-me a alma durante algum tempo.
E depois veio uma
tristeza. Não por ter saudades de viver com os meus pais. Não por não ser feliz
com o Miguel. Aliás, ao contrário do que muitos esperavam por ser filha única e
muito ligada aos meus pais, adaptei-me muito bem à minha independência e à
nossa vida a dois.Veio uma tristeza diferente.
Não sei como isto se diz de outra forma, mas a tristeza de morrer e de fazer falta aos meus pais. Não tanto ao Miguel, não tanto à minha família alargada, não tanto aos meus amigos. Porque para todos eles existiria sempre algo ainda, existiria futuro, vida pela frente, mais amor, mais amizade.
E o que restaria aos
meus pais?
O que resta a qualquer
pai, em que vê no seu filho uma extensão do que é, quando este lhe falta? Nada.
Não resta nada.E pensava muito nisso por não ter, ao tempo, ainda, descendência. De mim, ao tempo, se algo me acontecesse, só ficariam memórias.
Hoje vivo mais serena relativamente a esse receio, porque hoje existe o Pedro. E nele estou eu também.
Não cheguei a saber desse teu medo, mas agora faz todo o sentido! Porque acredito, mesmo, que não reste nada, não importe nada, não queiram mais nada.
ResponderEliminarE, apesar do Pedro transportar um bocado de ti, tenho a certeza que não te substituiu no coração dos teus pais!
Disso também tenho a certeza. Um dia destes, nas nossas corridas, falo-te desse meu antigo medo e do que a minha mãe me disse.
ResponderEliminarEsse era e ainda continua a ser (ainda que tenha ganho a vontade de ser mãe) um dos meus maiores medos em engravidar! O de piorar e deixar um filho sem mãe...parecia-me de tal crueldade que muitas vezes ponderei o assunto! Depois com o tempo, as conversas e as muitas insistências de muitos que até percebem do assunto, pensei que se algo acontecer, não podia ter melhor pai para o criar! E ele e quem fica ficariam para sempre com um pedaço de mim :)
ResponderEliminarVocês fazem-me chorar e sem saber o que dizer à Carolina que, apesar de ternurenta, exige explicações para as lágrimas.
ResponderEliminar;) sei o que é isso...
ResponderEliminarUm beijinho, meu bem!