Lembrei-me disto porque hoje é dia de Santo António e porque se aproxima o baptismo da minha afilhada Maria.
Não tive educação religiosa. Os meus pais não são religiosos, apesar de desconfiar que o meu pai é crente (não fala em Deus mas sinto-lhe fé em algo que define como para lá de nós).
No entanto, as minhas avós sempre foram católicas e praticantes, pelo que me habituei cedo a alguns rituais, a alguns costumes. E a respeitar.
Quando fui convidada pela primeira vez para madrinha, do meu já tão grande Gonçalo, senti uma comoção enorme por ver nesse papel o reconhecimento de que somos importantes para quem nos convida e pelo dever que nos confiam de assumir um amor maior por aquela criança.
Só depois me confrontei com a necessidade de esse papel passar também por uma formalização que não era compatível com a minha descrença. O que me preocupou, não por achar que estaria a ser hipócrita por jurar perante um padre algo que nunca iria fazer, porque nunca poderia transmitir ao Gonçalo algo em que não acredito, mas por recear não estar à altura daquele formalismo. Estive à beira do pânico porque foi um baptizado singular e eu estava mesmo ali à frente, todos os olhos em mim, e eu sem saber benzer-me ou rezar, e o padre a fazer perguntas…
E quando digo que não me senti hipócrita, digo-o com sinceridade, porque o Gonçalo sabe que as juras que lhe fiz, logo que o ouvi pela primeira vez, foram juras de um amor maior, que está para lá de qualquer crença.
Aliás, o meu marido
também não é religioso, mas se o fosse, independentemente do seu credo, se manifestasse
vontade de casar segundo um determinado ritual, fá-lo-ia sem qualquer hesitação,
porque concebo entregar-me a uma formalização religiosa simplesmente porque
estamos a falar de amor.
E, quando eu e o Miguel
fomos convidados para padrinhos da Maria, já sabíamos que nos iríamos
confrontar com esta necessidade de aparentar o que não somos, mas isso, mais
uma vez, por um amor maior que justifica tudo.
E digo mais. Não sendo
religiosa, quando a vida me leva a uma igreja, por um casamento, por um
funeral, estou absolutamente atenta porque procuro retirar das palavras de
alguém que de mim tanto se distancia, o que em todas as religiões ou descrenças
existe em comum.
Mas voltemos aos
santinhos.Hoje é dia de Santo António e, sendo descrente, tenho um busto deste santo na minha sala. Chegou a minha casa por mero acaso e, só depois de lá estar, é que me foi oferecido. E adoro-o. Pelo simbolismo. O Santo António é o santo casamenteiro e para mim representa essa união. Faz sentido na nossa casa, por isso, aí ficou em lugar de destaque.
Na minha carteira dos documentos trago um Santo Onofre e uma Nossa Senhora do Ó, ambos oferecidos pela minha avó paterna, o primeiro há muitos anos, a segunda quando engravidei, bem sabendo que era descrente. Mas ela, que em tanto nos santos confiava, ao oferecer-mos, deu-me a sua (da minha avó) confiança, a sua protecção, e, por essa razão, nunca os tirarei da carteira.
O meu filho tem um
terço oferecido pela tia Aninhas, que guardo numa caixinha no seu quarto. Quando
mo deu, disse-me “eu sei que não acreditas”. E eu interrompi-a e disse-lhe “basta-me
que tu acredites para saber o que este terço representa para o meu filho”
“...representa o teu amor”.
...como seria de esperar a lágrima apareceu...senti-me feliz e agradecida com as tuas palavras, como sempre.
ResponderEliminarA minha Fé é tão grande, que apesar de não querer impor a minha crença, gosto de mostrar a minha amizade, o meu carinho, a minha disponibilidade eos meus sentimentos através de símbolos que representam isso tudo a todos aqueles que fazem parte da minha vida. Obrigada por seres minha amiga e por mostrares em público um gesto tão simples de quem quer o bem dos amigos. <3
Palavras bonitas e sentimentos mais bonitos ainda...ADORO!!!
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