sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Eu, a espécie rara outra vez.

Já fui escrevendo sobre isto, aqui e ali.
A minha visão sobre o pós-parto, a relação a dois depois de seremos três, a maternidade, a educação não é coincidente com a generalidade dos discursos que por aí ouço.
Há um receio que é recorrente nas mães que eu não tenho: o medo de morrer. Não que não me assuste a morte pela sua definitividade, mas o meu medo de deixar de viver manteve-se inalterado após o nascimento do Pedro.
Aliás, como já escrevi, o Pedro trouxe-me alguma serenidade nesse aspecto, porque nele estou eu também, nele está a minha história, a minha vida, a minha marca, nessa forma mais perfeita que só um bebé consegue trazer às coisas.
No outro dia uma amiga falava-me do susto que apanhara na eminência de um acidente rodoviário e no seu pensamento de morrer e de deixar a filha pequena sem mãe. A falta que lhe faria… Isso é indiscutível. Porque não há um tempo certo para ficarmos sem mãe, sem pai, sem avós. Não há isso do “cedo demais” porque nunca é tempo.
Ou seja, não tenho dúvidas de que há um lugar na vida do Pedro que só a mim me pertence e que, se eu morresse precocemente, muito ficaria por partilhar, por dizer, por viver.
No entanto, não sinto qualquer angústia pela minha ausência, mesmo que definitiva. Não sinto esse medo. E claro, uma ou outra vez questiono-me se isso, que parece ser típico da condição de mãe, me faz pior.
Espero que não.
Confio tanto nas pessoas que fazem parte do Pedro, no Miguel, nos meus pais, nos meus sogros, nos tios maravilhosos que o meu pequeno recebeu, que sei que, na minha ausência, apesar disso, o meu filho teria o melhor e seria feliz.
E, paralelamente, vem-me à cabeça a estranha postura que tão frequentemente encontro em pais e mães que, após o divórcio, se sentem inseguros em deixar o filho com quem antes o confiavam cegamente, com quem antes até se pedia mais (mais muda de fralda, mais banho, mais dar o jantar) e que agora, porque o vínculo do casamento se desfez, já não é capaz, já não sabe, já não cuida.
Sei que não serei assim se um dia a vida me afastar do Miguel (kido, isto é só um raciocínio). Nada me faz duvidar que fará sempre o melhor para o Pedro, que cumprirá escrupulosamente o que delineamos para o nosso filho e que não será nunca o fim do nosso amor que colocará em causa esse amor maior que sentimos pelo Pedro.
Digo isto tão convictamente que sei, pela experiência (e até é alguma neste domínio), que também aqui fujo à regra.

2 comentários:

  1. Um erro técnico (é o que dá moderar comentários no iphone) fez-me eliminar o comentário da Princesa, que agora transcrevo:

    "Sabes, revi-me mesmo muito neste teu post... Adoro a tua escrita e adoro "perceber" que há mais " aves raras" como eu! Um grande beijinho"

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  2. Obrigada, Princesa, obrigada mesmo. Acho que fico mais serena ao não me saber sozinha ;)

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