quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Na curva do teu/meu pescoço


A primeira imagem que tenho da minha mãe não é visual. É um cheiro. Lembro-me de ser pequena, pequena mesmo, e de lhe cheirar a curva do pescoço. E cheirava “tão bem”, era assim que eu o dizia. Não era um perfume, era mesmo o cheiro do seu corpo que o meu amor desmesurado transmutava no melhor perfume de sempre.

Acho que com o Pedro também é assim. Sei que me sente, talvez porque me cheira, mesmo sem me ver. É assim de manhã, depois do primeiro leite, quando o dia ainda é pequenino e a luz escassa no quarto. Levo-o para a nossa cama, só para uns minutos de mimo (ao fim-de-semana são bem duas horas) antes do despertador tocar definitivamente e nos trazer à realidade. Se me levanto ouço “mamã?”. É assim no carro, quando me pede sonolento que lhe agarre a mão. Faço-o com custo, porque o Pedro viaja numa cadeira invertida e tenho que me contorcer para lhe chegar à mão. Se outra pessoa, o pai ou alguém que vá atrás com ele, lhe agarra a mão, mesmo com os olhos já cerrados pergunta “mamã?”. É assim no último leitinho, mesmo antes de se deitar, onde me parece dormir melhor, bem junto ao meu peito na direcção desse lugar de cheiros de infância.

Apesar de estar quase diariamente com a minha mãe, já não lhe encontro esse cheiro da infância. Como se fosse o cheiro de um tempo, daquele tempo. Mas tenho-o absolutamente presente. Não o reconheço em qualquer outro lugar, mas ao pensar no colo da minha mãe, sinto-o mesmo aqui, junto ao meu nariz.
E isso faz-me pensar qual o cheiro que o Pedro reconhece em mim.
Talvez doce, nessa combinação perfeita de chocolate e amor.

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