Já escrevi sobre o meu avô materno e falo nele muitas vezes. Tantas.
O tempo permitiu que deixasse de soluçar ou chorar quando penso no meu avô. Por vezes só a voz fica trémula ou os olhos turvos. Porque lhe sinto falta. Sinto-lhe falta do cheiro, da voz, da gargalhada. As fotografias não me trazem o quente da pele nem o cheiro dos frasquinhos que usava para corrigir as actas, nesse tempo em que ainda não havia corrector. E só tenho um filme do meu avô, que não me basta.
Ao Pedro falo-lhe deste nosso avô. Porque é assim que se ensina o amor.
Mas não sabia como lhe falar que este avô morreu. É difícil explicar a um filho que nem 2 anos tem que alguém que já não vive continua a fazer parte da nossa vida. Mas é assim que se ensina o amor.
Escolhi as estrelas. Esse sítio longínquo que o Pedro adora. Esse sítio de brilho. Esse sítio que nos chega a cada noite. Sim, pareceu-me bem: o avô Fernando está nas estrelas.
Sei que ensino bem o amor. O Pedro, sem ninguém lhe introduzir a conversa, disse-me há dias: "o avô Nando está nas estelas. Tem queixo igual." É uma repetição do que ouve, é certo, mas lembrou-se do avô.
Lembrou-se do avô ou porque se espantou com o brilho de uma estrela ou porque fixou o olhar no meu queixo, esse queixo que herdei do meu avô e que leguei ao meu filho.
E, assim, também eu aprendo o amor.
Apesar de não poder ter a oportunidade de o conhecer pessoalmente, guarda-o num sitio especial no coração. O meu filho ainda não compreende muita coisa mas irei falar-lhe também do meu avô paterno e contar-lhe como foi uma pessoa especial para mim e dizer-lhe que ele adoraria ter conhecido ele. Contar-lhe as histórias que aconteceram comigo e ele, contar-lhe como se tivesse sido ontem... A morte não significa esquecer...
ResponderEliminare o que há de mais importante do que ensinar/aprender O Amor?
ResponderEliminarEspero conseguir fazer o mesmo com o meu A.
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