terça-feira, 19 de maio de 2015

Em jeito de Alberto Caeiro

Todas as semanas ouço na primeira pessoa uma história de violência. Demasiadas vezes a pessoa que me fala é a vítima. Algumas vezes o relato é feito pelo agressor.
Ouço e faço o meu trabalho.Tento não o levar para casa. Quase sempre consigo.
Aprendi a gerir o meu nível de tolerância ao sofrimento, à injustiça, à violência, ao erro, ao que é inexplicável aos meus olhos. O meu limite está naqueles casos em que eu tenho mesmo que intervir. Tudo o resto prefiro não saber para lá do que está nas letras gordas de um jornal.
Eu sei que as coisas acontecem, que há um mundo podre mesmo ao nosso lado, mas prefiro não saber para lá do título principal. As palavras só por si, sem o pormenor de uma descrição detalhada, de um vídeo viral, de um relato feito por uma terceira pessoa, não abalam o meu nível de tolerância e chegam-me para estar alerta.
É uma forma incompleta de conhecer o mundo? Não. Eu sei que ao virar da esquina estará uma história pior do que tudo o que poderíamos ter imaginado. Eu sei, nada me surpreende. Só não vale a pena aprofundar ou aproximar...


1 comentário:

  1. A tolerância a histórias violentas, tristes vai flutuando ao sabor do que acontece na nossa vida, da nossa sensibilidade naquele dia. E do impacto que a vítima tem em nós. Entendo bem quando dizes que não queres saber detalhes, isso não faz de ti ingénua e alienada. Faz de ti racional e sábia.

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