Hoje recebi um email com imagens da cidade onde nasci. Imagens de um tempo que me antecede. Ainda assim, essa cidade onde nasci por acaso (ou não), é hoje tão diferente…
Póvoa de Varzim. Em todas as estações.
Passei quase todos os fins-de-semana da minha infância em casa dos meus avós. Nas férias grandes, várias semanas eram escolhidas para que evitasse as doenças de Inverno nessa praia de areia grossa e de mar revolto.
As memórias que tenho da infância esbarram com as memórias que tenho da Póvoa.
A Póvoa na Primavera. Nesse jardim junto ao apartamento dos meus avós. Com o meu primo irmão, a correr. A convicção durante anos de que a imagem à saída do prédio era a do meu avô. Sim, porque, aos meus olhos (ou direi ao meu coração?), o meu avô era importante ao ponto de ter o seu rosto pintado na parede do prédio.
A Póvoa no Verão. Calor. Tantos primos que se encontravam no apartamento dos meus avós. Tanto calor. O caminho para a praia. Um labirinto nas traseiras de um prédio que não era o nosso mas que visitávamos às escondidas dos meus avós. O som das rãs. O cheiro das rãs. Sou de um tempo (nunca pensei dizer isto) em que em vez de prédios, a caminho da praia, havia um lago gigante cheio de rãs. Penso agora que talvez fosse fruto da construção que se adivinhava ou o que teria ficado de uma obra embargada. Mas ao tempo era tão só o lago das rãs. A praia, único lugar onde tinha uma barraca reservada. Beijinhos e estrelas do mar. Um corneto de morango à saída. Melaço nas mãos e salitre nas costas. Nos dias mais longos, era-nos permitido um gelado extra depois do jantar. Vinha o meu avô carregado com os pedidos dos netos e um super maxi para a minha avó.
A Póvoa no Outono. As folhas secas à porta do prédio. O vento. Tanto vento. A história de que por causa do vento a minha mãe recebera um casaco de pele quando na Póvoa se instalaram vindos de Angola.
A Póvoa no Inverno. No dia em que nasci. Em todos os outros. Ouvir a minha mãe dizer que era assim que adorava a Póvoa. A ver a chuva cair no vidro do carro junto ao mar. Na véspera de Natal. Em todas as manhãs de Domingo que saía da minha cama e me enroscava no meio dos meus avós. Voltava a adormecer embalada pelo som dos cascos dos cavalos que puxavam as carroças. Tenho tantas saudades desse som. Sim, porque sou do tempo em que as carroças abundavam na Póvoa.
O sítio onde nascemos faz-nos. Também. Cresci a ouvir dizer que era mesmo Poveirinha. Refilona. Sem papas na língua. Eu, Poveirinha. Em todas as estações. Feita dessa cidade que só era minha ao fim-de-semana, mas que me tinha todos os dias por causa dos meus avós.
Não sou poveirinha de gema, mas gerei uma poveirinha, que como se diz por estes bairros tão tipicos da Póvoa, "poveirinha, pela graça de Deus!"Escolhi a Póvoa para viver e não me arrependo em nada, saí da Maia, e eu também adoro a Póvoa no Inverno, é única!Tenho uma poveirinha de 20 meses que é refilona e dona do seu nariz minúsculo, mas adoro que ela respire este ar de mar, que brinque na areia grossa no inverno. Como diz o slogan desta cidade "é bom viver aqui!"
ResponderEliminarPor isso é que somos manas: Tu poveirinha de nascença e eu de nome!
ResponderEliminarBem visto! Adoro.
EliminarLembro-me muito bem da Póvoa dessa altura.
ResponderEliminarE também sinto saudades...