terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Os objectos que são mais do que isso

Não é a primeira vez que escrevo sobre isto, este assunto já deambulou por muitas conversas, mas merece um lugar também aqui.
Apercebi-me de que dou um valor acrescido a determinados objectos quando, poucos meses após o nascimento do Pedro, comprei uns brincos de pedra preta com a forma de um cavalo marinho por me fazerem lembrar o meu filho. Quando era mais pequenino, por ter um boneco que o embalava que era um cavalo marinho, por ser tão doce como o boneco, chamei-o de cavalo marinho.Chamei-o assim com todo o sentido tanto mais que é um animal singular pelo facto de os machos partilharem tão de perto a maternidade carregando os filhotes na barriga até ao nascimento. Por isso, quando vi os brincos, tive que os ter nas orelhas, por terem uma dimensão emocional que os torna únicos.
Fi-lo acreditando que vão ficar eternamente na família, não como mais um objecto, mas como um pedaço das nossas vidas. Dei por mim a imaginar a minha neta, orgulhando-se dos brincos pretos e a dizer "eram da minha avó, comprou-os num dia de saudades por lhe lembrarem o meu pai".
Depois disso, passei a tocar com mais frequência noutros objectos com igual dimensão, a pegar neles para me lembrar o que representam.
As minhas paredes enchem-se de quadros especiais, com um valor único, uns que fazem parte do meu passado, um passado que remonta mesmo a uma data anterior ao meu nascimento, outros que marcam o encantamento que vivi durante a gravidez.
Adorna um dos meus móveis um buda que o meu avô materno ofereceu à minha avó pouco antes de “retornarem” a Portugal após o 25 de Abril.
Sorrio sempre que coloco o primeiro colar de prata que o Miguel me ofereceu sem reparar que trazia um exactamente igual ao pescoço, comovo-me quando uso o colar de ónix lapidado da minha avó materna e orgulho-me de poder usar o anel de noivado da minha avó paterna.
Ousei usar no dia-a-dia o casaco com que a minha mãe cobriu os ombros no dia do seu casamento e senti-me linda.
Guardo religiosamente uma concha que o meu pai pintou em menino para oferecer à minha avó, mas que a mim me coube.
Tranquilizam-me as 3 as andorinhas brancas que moram no quarto do meu filho, duas na parede, em altos voos, outra mais frágil, resguardada num ninho de vidro.
E a andorinha preta que todos os dias me acompanha ao pequeno-almoço e ao jantar recorda-me que a mim (a nós) me (nos) coube uma amizade inigualável.

2 comentários:

  1. Nem imaginas o xi-coração que me deste com este último parágrafo. Tenho os olhos brilhantes de felicidade :)
    Amigas tipo siamesas, mas unidas "só" pela alma e pelo coração :)
    Lucky me!
    Lucky us!
    ******

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  2. É mesmo isso, minha siamesa. Lucky us! Beijo

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