sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#21

Quando passamos a ouvir várias vezes "amanhã?" sempre que negamos qualquer coisa ao pequeno.
Quando continuamos a ouvir "amanhã?" depois de o pequeno nos recusar um pedido.

Ou seja, o meu filho tem grandes níveis de esperança, porque se hoje não pode, acredita que amanhã será diferente, e é um diplomata, porque se agora não quer, não nos fecha a porta para amanhã.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Ainda a propósito da felicidade

A minha profissão faz-me ver que mesmo ao lado da porta há gente que vive numa realidade absolutamente diferente da minha. Gosto tanto disso, do facto de a minha profissão me fazer consciente de como somos tão diferentes, com vivências tão opostas…

No outro dia um cliente contava-me, com brilho nos olhos e com um entusiamo próprio de uma criança, como foi ter ido, agora, a primeira vez a uma feira de cavalos. No regresso a casa comeu leitão. Pela primeira vez. Como era deliciosa a forma como descrevia como lhe tinha sabido bem o leitão, “quentinho” e com “a pele a estalar”. Como se mostrava feliz, tão feliz. Sorri e o comentário inevitável: “então nunca tinha comido leitão…”. Ao que a mulher, a seu lado, espectadora de tudo o que o marido havia experimentado, espectadora dessa felicidade, porque não fora na viagem, me disse: “Eu nunca comi, Sra. Dra., e tenho 65 anos.”

E eu, com 31 anos, também nunca comi o bolo de sardinha que a Senhora faz. Nem em tal iguaria alguma vez tinha ouvido falar…

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

No caminho da felicidade.


Sábado fui ao workshop da Mum’s the boss “A arte e a ciência de educar crianças felizes” e adorei.  Eu sabia que estava no caminho certo para ser mãe de uma criança feliz, mas o workshop fez-me consolidar ideias e acelerar o passo.
Deixo aqui três das coisas que aprendi e que já comecei a pôr em prática.

-consequência em vez de castigo
O Pedro passou a fase de arremessar objectos para a fase de os pontapear. Pergunto-me onde vai buscar essas ideias agressivas. Ah, pois, o menino ainda não tem o cérebro completamente formado (private joke para quem esteve no workshop).
Assim, no Domingo, quando começou a pontapear o móvel da sala enquanto brincava com os carrinhos, expliquei-lhe que isso não se fazia, que com isso estragava o móvel e as sapatilhas e que como ainda não sabia brincar junto ao móvel, teríamos que sair dali. Mudei de divisão, o Pedro chorava, eu voltava a explicar e ele entendia bem, porque quando me dizia que queria ir para a sala e eu dizia “não”, ele terminava com a palavra que usa para dizer “pontapé”. Tentei várias vezes, acreditando que aquele “pontapé” era a promessa de que não o faria. Mas fez, até que parou. Mas eu sei que vai continuar. De todo o modo, acho que a consequência em vez do castigo é mais justa, com mais significado e um óptimo contributo para uma criança feliz (ainda que não pareça no momento em que a usamos).

-o toque no momento da ordem
Sinto muitas vezes que falo para o boneco e agora que são tantos lá em casa a coisa complica.
Experimentei uma só vez no Domingo e fez toda a diferença!

-uma actividade a cada dia, porque o que os pequenos precisam é de brincar!
Escolhi 7 actividades, excluindo carros e livros porque isso já faz parte do dia a dia do pequeno sem falhas, uma para cada dia da semana, por esta ordem: plasticina, bolas de sabão, construções, pintura, dança/música, máscaras/fantasias e a surpresa (um livro novo, um brinquedo novo, uma brincadeira nova…). Começaremos hoje e acho que vai ser uma animação, criamos uma rotina para o Pedro, o que lhe é favorável, segundo os entendidos, e óptimo para nós, porque temos um guião a seguir.
Deixo aqui o quadro que preparei para o efeito, com cores para cada dia da semana, estando à procura de autocolantes representativos de cada actividade para colar no dia respectivo.

 

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Análise sociológica. Do jantar da primária

O primeiro jantar da primária foi há cerca de 1 ano. 14 colegas. Como foi bom reencontrarmo-nos. Ver como alguns estavam iguaizinhos, outros uma verdadeira revelação. Conversa fácil, apesar da distância de 20 anos…
Dos 14 todos tinham emprego. Nenhum desempregado, o que motivou comentários, porque há um ano a crise já era capa (mais do que instalada) de todos os jornais.

Agora, 1 ano depois, no terceiro jantar da primária, dos 10 resistentes, nenhum desempregado, mas 3 falam de emigração. Um já tem a viagem marcada para Março. Outro pensa seriamente no assunto e já tem contactos. O outro pensa nisso apenas.
1 ano depois 1/3 de nós tem o coração aqui e a cabeça no estrangeiro. E isto não faz capas de jornais?

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Não dá para esconder que tens um filho pequeno...#20

Quando às 22 horas de Domingo, com um frio cortante, reúnes a família na varanda para fazer bolas de sabão.

Tudo tem uma explicação.
No início da semana o Pedro encontrou um frasco de bolinhas de sabão lá em casa. Expliquei-lhe que não as podia fazer dentro de casa e que por isso no fim-de-semana iríamos até ao jardim para as fazer. Nos dias seguintes, sempre que via o dito frasco dizia-me “no fim semana” e eu confirmava-o. O fim-de-semana chegou e eu nunca mais me lembrei das bolas de sabão. Até que o Pedro me avivou a memória ao ver a minha fotografia do telemóvel, em que eu estou exactamente com ele a fazer bolas de sabão. Porque as promessas não se quebram, mesmo que a criança não saiba se é ou não fim-de-semana, vestimos um kispo e um gorro ao pequeno e foi vê-lo numa alegria contagiante a correr atrás das bolsas. E o bónus? Contra as expectativas do pai, não fez birra para voltar para dentro.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Ana, a criança

É sempre surpreendente o discurso de uma criança. As suas convicções, alicerçadas numa ingenuidade que lhe é própria, são deliciosas. O seu raciocínio é fascinante. As suas deduções são encantadoras.

Ouço muitas histórias dos meus tempos de criança, mas os meus pais não têm um livrinho, como eu pretendo ter para o Pedro, para registar as melhores saídas de sempre.
Eu, como criança era como todas as outras: surpreendente!
Como referi no post anterior, acreditei durante muito tempo que o meu avô tinha o seu rosto pintado na parede exterior do prédio. Ele era ou não era a pessoa mais importante daquele prédio? Mais tarde percebi que era o Vasco da Gama, nome escolhido para o edifício.

Ao atravessar de carro a ponte móvel de Matosinhos a minha mãe dirigida ao meu pai dizia “olha, Abílio, olha.”, ao que respondi, “mãe, o pai parece cego, mas não é.”

Durante muito tempo acreditei, por sugestão de um tio avô, que a minha mãe já tinha sido preta e portadora de uma bela carapinha e que a mudança se tinha dado quando passou a linha do equador, quando deixou Angola, o país onde nasceu.  

Com 3 ou 4 anos caí da altura de um primeiro andar. Rachei a cabeça. O aparato foi grande. A lesão nem tanto. Quando fui encaminhada para o RX, acompanhada pela minha mãe, o médico perguntou-me “o que é me contas?” e eu respondi “a minha mãe tem um sapato de cada cor, um azul e outro preto.” (era verdade, com a aflição a minha mãe calçou sapatos de pares diferentes). O médico disse à minha mãe “ a menina está óptima, não se preocupe.”

Em miúda tinha muita dificuldade em articular a palavra pontapé (não consegui mesmo perceber a dificuldade, mas lembro-me que me saía algo muito estranho). Para evitar constrangimentos, passei a designar o pontapé como o “murro com o pé”. 

Desisti do ballet cedo. No final de cada aula havia um momento livre em que supostamente cada menina não obedecia a comandos e expressava livremente a sua criatividade. Numa das primeiras aulas quis ficar sentada no meu momento livre. A professora não entendeu o meu argumento: se era para fazer o que quiséssemos, eu queria fica sentada…

A primeira vez que fui com os meus pais ao continente de Vila Nova de Gaia a viagem pareceu-me longa de mais. À minha mãe também. Disse-lhe, convicta, que estaríamos a chegar porque na placa indicava “Gaia. Despesas.” (na verdade a placa dizia Gaia. Devesas).

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Poveirinha

Hoje recebi um email com imagens da cidade onde nasci. Imagens de um tempo que me antecede. Ainda assim, essa cidade onde nasci por acaso (ou não), é hoje tão diferente…

Póvoa de Varzim. Em todas as estações. Passei quase todos os fins-de-semana da minha infância em casa dos meus avós. Nas férias grandes, várias semanas eram escolhidas para que evitasse as doenças de Inverno nessa praia de areia grossa e de mar revolto. As memórias que tenho da infância esbarram com as memórias que tenho da Póvoa.

A Póvoa na Primavera. Nesse jardim junto ao apartamento dos meus avós. Com o meu primo irmão, a correr. A convicção durante anos de que a imagem à saída do prédio era a do meu avô. Sim, porque, aos meus olhos (ou direi ao meu coração?), o meu avô era importante ao ponto de ter o seu rosto pintado na parede do prédio.

A Póvoa no Verão. Calor. Tantos primos que se encontravam no apartamento dos meus avós. Tanto calor. O caminho para a praia. Um labirinto nas traseiras de um prédio que não era o nosso mas que visitávamos às escondidas dos meus avós. O som das rãs. O cheiro das rãs. Sou de um tempo (nunca pensei dizer isto) em que em vez de prédios, a caminho da praia, havia um lago gigante cheio de rãs. Penso agora que talvez fosse fruto da construção que se adivinhava ou o que teria ficado de uma obra embargada. Mas ao tempo era tão só o lago das rãs. A praia, único lugar onde tinha uma barraca reservada. Beijinhos e estrelas do mar. Um corneto de morango à saída. Melaço nas mãos e salitre nas costas. Nos dias mais longos, era-nos permitido um gelado extra depois do jantar. Vinha o meu avô carregado com os pedidos dos netos e um super maxi para a minha avó.

A Póvoa no Outono. As folhas secas à porta do prédio. O vento. Tanto vento. A história de que por causa do vento a minha mãe recebera um casaco de pele quando na Póvoa se instalaram vindos de Angola.

A Póvoa no Inverno. No dia em que nasci. Em todos os outros. Ouvir a minha mãe dizer que era assim que adorava a Póvoa. A ver a chuva cair no vidro do carro junto ao mar. Na véspera de Natal. Em todas as manhãs de Domingo que saía da minha cama e me enroscava no meio dos meus avós. Voltava a adormecer embalada pelo som dos cascos dos cavalos que puxavam as carroças. Tenho tantas saudades desse som. Sim, porque sou do tempo em que as carroças abundavam na Póvoa.

O sítio onde nascemos faz-nos. Também. Cresci a ouvir dizer que era mesmo Poveirinha. Refilona. Sem papas na língua. Eu, Poveirinha. Em todas as estações. Feita dessa cidade que só era minha ao fim-de-semana, mas que me tinha todos os dias por causa dos meus avós.