sexta-feira, 26 de junho de 2015

É mais uma conversa daquelas.

Faz hoje uma semana que estive mais de duas horas a conversar com o Miguel na varanda.
Uma conversa sem os meninos por perto faz bem. Coloco as ideias no sítio, choro à vontade, desarmo esta aparência de mãe com super poderes e fico aliviada.

Passou uma semana e estou novamente com as lágrimas fáceis. Preocupa-me esta estranha hipersensibilidade que se apoderou de mim. Quase tudo me dá vontade para chorar, seja o choro de uma criança pouco cuidada, seja a criança que é abraçada pelo pai enquanto pede um bolo, seja o arguido que, envergonhado, se atrapalha na recolha das impressões digitais, seja o cliente que me mostra como precisa de umas sapatilhas novas, seja o idoso sentado no banco do carro à espera de alguém, seja um bebé que é acalmado com a cantilena da mãe na repartição de finanças.

Preciso de mais uma conversa na varanda.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Penitência

Tenho lido muito. Tenho pensado muito.
Coloco-me muitas vezes na posição do outro e acho-me injusta.
Não sou pior porque, entre aquilo que penso e aquilo que faço, muito fica pelo caminho. Ainda bem.

Tenho pensado muito. Precisava do conselho de alguém, de um café na esplanada, de um banho de imersão.

Penso no que fiz de errado, no que faço de errado. Arranjo desculpas para os meus actos.
A culpa, essa, vejo-a como uma neblina nas fotografias de há um ano. Não em mim, curiosamente, mas no destinatário do meu erro. E se é verdade que esse erro é insignificante para a generalidade das pessoas, para mim traduz um peso gigante na pessoa que me julgava.

Voltei à única cidade que me aperta o peito. A cidade é linda, não há nada de concreto que justifique o que sinto. Mas sinto, sempre, tantos anos depois, a mesma angústia quando lá volto.
O que escrevo agora é mais ou menos como voltar àquela cidade que me aperta o peito. Aparentemente, nada justifica o que sinto, mas sinto. Aposto que se falasse nisto a uma amiga minha, ouviria "deixa-te disso Ana".

O que queria ouvir era algo diferente. Tenho pensado muito. Penso em quem me poderia dar uma resposta diferente, quem me levasse a neblina. Não estou a ver...
Com a confissão posso eu bem. Não vislumbro, mesmo, é a penitência.



terça-feira, 16 de junho de 2015

Santo António - a fotografia em falta

À porta da Sé.
Na impossibilidade de percorrer as ruas até ao Castelo, ruas imensas de gente, de música, de riso, enquanto a Aninha dormia no carrinho, parámos à porta da Sé.
Aguardávamos que todos se juntassem para uma fotografia colectiva.
Na mala da máquina fotográfica, presos num laço, dois balões assinalavam, para quem nos perdesse de vista pelas ruas imensas, que estávamos ali.

Os balões soltaram-se.
Voaram juntos até os perdermos de vista, entre as nuvens espessas e o fumo das sardinhas.

Um balão da Minnie, outro do Mickey.
Voaram. Presos um no outro.
E foram felizes para sempre.

[A surpresa do acontecimento não me deu tempo para o registar numa imagem. É a fotografia em falta da noite de Santo António.]

segunda-feira, 15 de junho de 2015

...

Hoje, depois de 3 dias colada a ti, optei por não te dar um beijo antes de sair.
Tu choras, de manhã, quando me vês.
Como diz o teu irmão, tantas vezes, na corrida entre a sala e a casa-de-banho onde me encontro: "mamã, a mana quer-te". 
Tu choras se eu te falo e depois tenho que voltar à correria dos dias úteis.
Tu choras porque o meu colo não fica indefinidamente disponível.
Para evitar o teu choro, optei por não te dar um beijo. 
Fiz mal.
Estou verdadeiramente vazia.