segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Serra das Estrelas

Saímos cedo de casa e os seus 23 meses, feitos nesse dia, permitiram-lhe já antever que seria um dia de passeio. Um passeio grande.
Quando lhe perguntei “sabes onde vamos?”, respondeu-me “Ponte de Lima”, porque 15 dias antes tínhamos escolhido passar o dia junto ao rio.
Tivemos tempo no caminho, antes que adormecesse e antecipasse o dia em sonhos, de lhe falar na neve, no frio, nos primos que iriam ter connosco e nesse nome bonito da Serra que o Pedro preferiu usar no plural: Serra das Estrelas.

O tempo devia permitir que gravasse para sempre aquela imagem do meu filho em espanto. O querer tocar na neve, o sentir o frio, o riso, a forma segura como caminhava, o rebolar no chão, abraçando a neve.
 
Alegria genuína. Como nunca pensei. Felicidade absoluta. Como só se sente quando se é criança. Ouvi-o dizer várias vezes “tanta neve”, como se pudesse o Pedro saber se aquilo era muito ou pouco. Tanta, porque para o meu pequeno tamanha felicidade não podia vir de pouco. Eu sei que não é verdade.
É o que mais adoro em ser mãe: fazer o meu filho feliz com quase nada.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Contradições

Não sendo crente, não fez sentido a frase que, trémula, deixei escapar: "se isto não passar de um susto, eu, eu, faço qualquer coisa importante, não sei, ajudo alguém, qualquer coisa...."
Parecia querer acreditar que se fosse só um susto e que se tudo estivesse resolvido, teria que compensar a sorte, a ajuda "divina".
Somos tão contraditórios. O desespero, então, faz-me tão contraditória...
Por isso, repetidamente, pedi desculpa esta manhã. Eu não sou assim. Eu não devo agir como agi. Ontem não fui capaz de deixar o escritório nem por um momento, nem enquanto dava o leite ao meu pequeno. Daí o meu pedido repetido de desculpa. Nem eu nem os que amo o merecem.

Quando saí do tribunal chovia. Ainda assim voltei à rua onde, minutos antes, vi uma senhora vender flores. Porque chove poucos devem parar para comprar flores. Eu parei. Eu comprei. Um molho de frésias para a minha mãe, outro para o meu marido.

  

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Estes dois

Estes dois enchem-me o coração pelo simples facto de existirem. Mas eles resolveram ir mais longe e, por diversas vezes já me vieram as lágrimas aos olhos, de alegria, daquela bem boa!
A estes 2 só lhes faltou nascerem juntos e desafiarem-se um aou outro no primeiro choro. Conheceram-se no quente da barriga das suas (lindas e maravilhosas) Mães e, desde então, é ver a amizade crescer.
Partilharam dress codes, pic nics, fotos colectivas, areia da praia e água da piscina!
É impressionante como gostam um do outro, do alto dos seus 18 meses. O Diogo gasta o nome do Pê até à exaustão, pergunta por ele, quase todos os dias desde que voltamos de férias, chora quando tem de se separar. O Pedro dança de alegria quando vê o Diogo, sorri de uma forma incrível, provoca-o em todas as suas brincadeiras, corre e espera que o Diogo o siga, esconde-se e chama para que o procure. É a verdadeira loucura quando estão juntos, brincam até ficarem de cabelo encharcado de tanto suar e ficam felizes, felizes...
Há poucas coisas boas na vida como os amigos, e ensinar a, maravilhosa, arte da amizade, desde o dia em que se nasce, é dos melhores presentes que podemos dar a um filho. Não sabemos o que o futuro lhes reserva, se um dia enjoam um do outro (ai deles...), se serão, ou não, os melhores amigos do mundo, mas por enquanto vamos bebendo um pouco desta alegria de estar por perto, deste entusiasmo e deste amor pequenino.”

                                                                                                       Ana Melancia
Este texto foi escrito há uns meses pela minha amiga Ana.
Faz sentido publicá-lo aqui, porque não escreveria melhor sobre esta amizade em jeito de irmãos.
Faz sentido relembrá-lo agora que terminamos os 4 (os pais) as visitas aos jardins infantis para os 2 pequenos. Porque quem não nos conhece, quem ignora esta amizade que tão bem a Ana descreve, “estranha-nos”.  E nós sorrimos com isso.

“Mas afinal quantos meninos são?”
"Nós não somos nenhuma família (muito) moderna. São dois meninos, um de cada um de nós, de cada casal, quero dizer."
“Que idade têm as crianças?”
"Têm dois anos. Fazem os dois em Março."

"Não precisa de passar as informações para outro cartão. Basta 1 para os 4. Nós somos mesmo amigos."
"Não precisamos de prolongamento. A nossa família é toda daqui. Os avós moram todos aqui."

E podíamos dizer que ambas as mães são Ana Cristina. Que um adulto é Pedro, que uma criança é Pedro, mas não são pai e filho. Que um adulto é Miguel e que um nascituro é Miguel, mas não são pai e filho. Que cada um dos meninos tem uma avó Adelaide e um avô Albino, mas não são avós comuns.
Mas isto baralhava um bocado mais, não?

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#23

Quando o nosso pequeno regressa ao jardim zoológico para ver novamente o tigre bebé (é impossível não gostar, vamos tentar outra vez, é tão giro...) e, à noite, o pai pergunta: "Já disseste à mamã o que foste ver hoje ao zoo?", ao que ele responde "a menina!"

Eu sabia

Eu sabia que o julgamento de hoje me faria relativizar o peso que trago nos últimos dias. Eu sabia. Enquanto aguardo no átrio, vejo o menino correr. Correr talvez seja enfatizar a coisa, mas já anda, é o que importa. Enquanto espero, a luz difusa que lhe acompanha os movimentos, lembra-me o meu menino. Porque o meu corre desde que começou a andar... Enquanto aguardo, vejo a mãe. Sinto-lhe o nó na garganta, sinto-lhe o ritmo acelerado do coração. Enquanto espero não tenho dúvidas de que sou abençoada. A espera lembra-me o que pedi às estrelas. E enquanto espero sou melhor, porque estou centrada no que realmente importa.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Não consigo cumprir a minha resolução de ano novo

Pedi num balão que lancei às 0h00m do dia 01/01/2013 para que me centrasse mais no que é importante. Falhei. Tenho falhado desde há uns dias. Não consigo sequer escrever sobre tantas coisas boas que entretanto me aconteceram porque sinto sempre o amargo do peso que trago comigo. E não quero misturar sabores.
Quando isto me passar volto.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

10 + 10

Magda desafiou-me e eu aceitei. Neste blog falo de mim. Em 20 linhas, falo de mim.

10 COISAS DE QUE GOSTO MUITO:
 
1-     Da forma como o meu filho se enrosca em mim.  
2-     Da confiança no amor do meu marido.
3-     Da afinidade, “da história repetida”, das coincidências de vida, de gostos, de formas de estar relativamente à minha mãe.
4-     Do que aprendo com o meu pai.
5-     Da forma única como mantenho amigas/irmãs.
6-     De fotografias e de objectos com história.
7-     De receber, ler e reler cartas.
8-     De receber bem em nossa casa.
9-     Dos segundos sentidos das coisas.
10-  De chocolate.

10 COISAS DE QUE NÃO GOSTO NADA:
 
1-Dos atrasos dos outros.
2-De chegar sempre atrasada por causa do meu marido.
3-Da falta de consideração.
4-De apanhar escaldões.
5-Da falta de tempo.
6-De deslealdade.
7-De não cumprir com o prometido.
8-De fazer exercício.
9-De não saber das chaves, dos óculos, do porta-moedas ou outro objecto muito necessário no momento.
10-De cerveja.

Segue o desafio para a Princesa.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

O avô das estrelas

Já escrevi sobre o meu avô materno e falo nele muitas vezes. Tantas.
O tempo permitiu que deixasse de soluçar ou chorar quando penso no meu avô. Por vezes só a voz fica trémula ou os olhos turvos. Porque lhe sinto falta. Sinto-lhe falta  do cheiro, da voz, da gargalhada. As fotografias não me trazem o quente da pele nem o cheiro dos frasquinhos que usava para corrigir as actas, nesse tempo em que ainda não havia corrector. E só tenho um filme do meu avô, que não me basta.
Ao Pedro falo-lhe deste nosso avô. Porque é assim que se ensina o amor.

Mas não sabia como lhe falar que este avô morreu. É difícil explicar a um filho que nem 2 anos tem que alguém que já não vive continua a fazer parte da nossa vida. Mas é assim que se ensina o amor.
Escolhi as estrelas. Esse sítio longínquo que o Pedro adora. Esse sítio de brilho. Esse sítio que nos chega a cada noite. Sim, pareceu-me bem: o avô Fernando está nas estrelas.

Sei que ensino bem o amor. O Pedro, sem ninguém lhe introduzir a conversa, disse-me há dias: "o avô Nando está nas estelas. Tem queixo igual." É uma repetição do que ouve, é certo, mas lembrou-se do avô.
Lembrou-se do avô ou porque se espantou com o brilho de uma estrela ou porque fixou o olhar no meu queixo, esse queixo que herdei do meu avô e que leguei ao meu filho.
E, assim, também eu aprendo o amor.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#22

Quando estamos ansiosos por mostrar o tigre bebé ao nosso (bebé).
Quando preparamos a máquina fotográfica para registar o momento.
Quando depositamos imensas expectativas naquele encontro.
...
 E o pequeno olha 1 segundo e diz "um gato", virando, de imediato, as costas.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Aos 32


Aos 32 voltei à (minha) casa dos meus pais. Voltei à cozinha onde fiz um bolo pela primeira vez para fazer o que agora receberia as 3 andorinhas* que simbolizam a minha/nossa vida. Voltei às horas tardias de conversa, enquanto eu fazia doces, o meu pai tratava dos salgados e a minha mãe do mimo (a toda a hora). Lá em cima o Miguel e o Pedro deixavam-se adormecer. Quando subi já nenhum dos meus amores me sentiu, mas de manhã, quando o dia acordou de Inverno como eu gosto, frio e solarengo, não deixei de lhes dizer que adormeceram comigo também: afinal aquela é a minha casa, sou eu também.
Aos 32 dormi pela primeira vez com o Miguel e o Pedro na (minha) casa dos meus pais. As nossas casas estão a 1 minuto de distância a pé. A nossa casa não estava em obras, não tinha sofrido uma inundação. Aos 32 voltei à (minha) casa dos meus pais porque o meu pai me pediu. E os dias que me fizeram chegar aos 32 ensinaram-me que não recusamos pedidos simples de quem nos ama.

Aos 32 saí de manhã para comprar uma prenda para o meu filho. Porque a sua pouca idade não lhe permite, ainda, perceber que o nosso maior presente não vem envolto em papel de embrulho.

Aos 32 não pedi um desejo. Não me lembrei no momento. Depois percebi.
Tenho tudo.

*São 3 as andorinhas. Eu/o Miguel/o Pedro. Eu/a minha mãe/o meu pai. Eu/a minha família/os meus amigos.