segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Os 4 corações

Há uns dias encontrei-me por acaso com 4 corações. Os 4 numa montra de uma loja. Com umas frases pintadas em francês, essa língua que não domino. Um dizia algo como a minha primeira pulseira do hospital, o outro a primeira madeixa de cabelo, outro ainda o primeiro dente de leite e o quarto não conseguia chegar lá. "Porte bonheur"... A internet salva-nos sempre. Seria a caixinha para guardar a primeira lembrança da sorte, de protecção, como uma figa ou um trevo. Trouxe os 4 corações para casa. Coloquei a pulseirinha do hospital no coração respectivo. Guardei dois deles porque me separam anos da queda do primeiro dente de leite e porque o cabelo do Pedro teima em não crescer. No coração do "porte bonheur" coloqui a mola com o cordão umbilical do Pedro. Coube na perfeição. E não é que faz todo o sentido?! Há maior protecção do que aquela que nos chega por esta ligação inviolável e intra-uterina?

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#19

Quando o que seria motivo de orgulho e prova de criatividade
É mesmo a cadeira da sala de jantar...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A primeira vez

O que é mais surpreendente num filho é a quantidade de “primeiras vezes” que nos ficam agarradas à memória e ao coração. Vivo em espanto. Com tudo o me dá pela primeira vez, com tudo o que faz pela primeira vez.

Não me esqueço de tantas primeiras vezes. Ainda lhes sinto o cheiro, a confusão das cores, os paladares, o coração a bater mais depressa. Tudo por causa deste amor à primeira vista.
A primeira vez que o vi, tão cor-de-rosa.
A primeira vez que o alimentei, a boca na minha pele.
A primeira vez que vi o Miguel a dar-lhe banho.
A primeira vez que sorriu.
A primeira vez que se deixou fotografar profissionalmente.
A primeira vez que mergulhou na piscina.
A primeira vez que se encantou com uma peça de teatro.
A primeira vez que lhe vi um dente.
A primeira vez que, tardiamente, rodou.
A primeira colher de puré de cenoura.
A primeira colher de iogurte.
A primeira vez que disse mamã.
A primeira vez que disse mamã intencionalmente.
A primeira vez que disse papá.
A primeira vez que gatinhou.
A primeira vez que andou (fiquei em êxtase porque não o julgava tão hábil).
A primeira vez que fez uma torre com brinquedos.
A primeira vez que foi à estante dos livros e sozinho o folheou.
A primeira vez que gostou de calcar a areia e de molhar os pés no mar.
A primeira vez que me abraçou, com força, dando-me palmadinhas nas costas.
A primeira vez que me colocou as mãos, lado a lado, na cara e me fixou os olhos.
A primeira vez que me beijou.
A primeira vez que repetiu o beijo.
A primeira vez que deu a chupeta ao Peter.
A primeira vez que disse tudo o que já diz: cá (carro), tocá (autocarro) má (máquina), bó (bola), alua (lua), cão (o animal), cão (chão), não, bô (bolo), geado (gelado), olá, abu (avô), abó (avó), Ana, Joana, Margaid (Margarida), Maía (Maria), tótó,  tiangulo (triângulo), cadado (quadrado), circ (círculo), amalelo (amarelo) a-zul (azul), laanja (laranja), vemel (vermelho),  atémanhã (até amanhã), então, manga, gute (iorgurte), caninha (carninha), massa, arru (arroz) …
A primeira vez que bateu os pés quando lhe disse para nadar na banheira.
A primeira vez que fez uma birra a sério.
A primeira vez que terminou uma frase da minha mãe com um “está bem?”.
A primeira vez que respondeu ao brinquedo bilingue “bye bye”
A primeira vez que, numa frase comprida e imperceptível, disse “alua amanhã”, depois de lhe ter dito que naquela noite a lua estava escondida mas que no dia seguinte já seria visível.
A primeira vez que riu às gargalhadas com uma palavra nova, como calmex, a sério? ou leleco (personagem da novela).
A primeira vez que partilhou um brinquedo com o Gonçalo, para logo se arrepender.
A primeira vez que dançou de alegria ao ver o primo Diogo.
A primeira vez que chorou por querer despedir-se da prima Margarida.
A primiera vez que, vendo uma fotografia da Maria, choramingou, passando as mãos na foto, nesse gesto tão fofo que usa para pedir.
A primeira vez que chegou à sala com a caixa do gelado, esquecida na cozinha, pedindo “maiis”.
A primeira vez que me disse, preparando-o para ir para a cama, “ainda não”.
A primeira vez que, de manhã, na nossa cama, ainda meio a dormir disse “mamã, papá”, rodando os braços para nos tocar.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#18

Quando ouvimos da sua boca, assim, sem ninguém lhe perguntar nada, no meio de palavras imperceptíveis, isto: “mamã totó, papá totó”.

Sim, lá em casa somos todos da mesma espécie.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A tarde mágica


Era uma tarde normal, 5 crianças e um bebé (o meu ainda é bebé, não é?).
Trocámos os jogos de computador, os carrinhos e o conforto da sala pela floresta.
Já não era cedo, o dia tinha-se posto cinzento, a luz não tinha aquela cor matinal que encontrei no local aquando da primeira visita. Mas este sítio, em Sintra, a caminho da Peninha e dos Capuchos, é inevitavelmente encantador com qualquer luz, a qualquer hora do dia.
Preparei tesouros doces e um lanche comum.
O que fez a diferença foi a manta que trago sempre no carro, estendida, permitindo um pic-nic improvisado. Comer sentado à chinês, com o cheiro da terra e das heras mais perto fez mesmo toda da diferença.
O que fez a diferença foi esconder os tesouros entre as pedras e o verde e deixá-los correr.
O que fez a diferença foi a minha descrição do local.
Ainda em viagem falei-lhes de que aquela floresta era mágica, porque só em sítios brindados pela magia as heras trepam as árvores e o silêncio se abate sobre nós como o melhor som de sempre. Falei-lhes de fadas, com o olhar inquisidor do Miguel por achar que o meu afilhado já tem idade suficiente para saber que elas não existem. Falei-lhes do encanto que só se encontra nos filmes ou nos livros de contos, mas que ali se revela em cada folha, em cada fio de luz por entre as árvores, em cada som…

O que fez a diferença foi tão pouco. Mas deu-nos tanto.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Senti nas mãos a minha avó

Ontem senti nas mãos a minha avó Belinha.

A minha avó Belinha não me viu crescer de perto, apesar de as nossas casas estarem a não mais do que 15 minutos de carro. Não fez bolos comigo. Não me beijou sem razão.
Tenho pena que assim tenha sido.
Mas não me sinto responsável por isso.
Porque, apesar de a vida se ter traçado assim, sempre ouvi com curiosidade as histórias que tanto gostava de contar dos seus tempos de mulher bonita (e tão bonita que foi, dando razão ao nome pelo qual a chamavam), as histórias do meu pai, as histórias do meu avô, de quem se divorciou num tempo em que não se permitia às mulheres fazerem-no.
Porque, apesar de a vida se ter traçado assim, por várias vezes lhe fiz a sobremesa que queria ou, mesmo sem me pedir, os scones de que tanto gostava.
Porque, apesar de a vida se ter traçado assim, sempre insisti para que o meu pai fosse mais presente.
Arrependo-me apenas de não ter acedido ao seu pedido de me arranjar as unhas no dia do meu casamento.
A minha avó era pedicure. A melhor que conheci. Trabalhou anos num salão, continuou a fazê-lo em casa para as clientes mais fiéis. Arranjou-me os pés várias vezes, ensinou-me truques preciosos, principalmente para quem, como eu, tanto sofre dos pés.
Ontem uma das minhas unhas deu sinais da falta da intervenção da minha avó. Fiz exactamente o que me ensinou (poupo os detalhes menos agradáveis). Parece-me perfeito o resultado. Só porque tive nas mãos a minha avó, por um bocadinho.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Os dias felizes


fazem-se de bolas de sabão...
fazem-se de amor...

E ficam registados pelos olhos e pelas mãos da Mariana Sabido

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O meu filho tem-me em muito boa conta!

Sempre que vê o novo anúncio da intimissimi diz repetidamente mamã, mamã. Já lhe expliquei que não é a mamã, mas o pequeno insiste. Ele lá sabe tirar as parecenças! ;)

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O fim-de-semana

Num preâmbulo a cor-de-rosa. 14 mulheres à volta de uma mesa. Vinho rosé. Limonada para as grávidas. Conversas. Surpresas. Corações. Tantos. O meu coração nas mãos daquelas minhas 13 amigas. As nossas semelhanças, as nossas diferenças, mas o nosso amor tão despreocupado com o que nos separa e tão atento ao que nos aproxima. Últimas fotos. Partidas para o Miguel. Risos, tantos risos.
O jantar só terminou no dia seguinte. Às 4 da manhã, quando as 3 últimas pessoas deixavam a minha casa, não podia imaginar que seria o último vislumbre do Guilherme em modo “enclausurado”. Não podia mesmo.

Fiquei desconfiada com o telefonema e com a mensagem para o Miguel, que ainda dormia, a uma hora pouca própria para quem se deitou tão tarde. Resolvi ligar. Perguntei: “A Andreia está em trabalho de parto?” “Já nasceu”, foi o que me responderam. Como fiquei feliz. Essa felicidade que é maior porque nos chega de surpresa, porque me emociona essa correria pela qual não passei quando o Pedro nasceu.
E 29 de Setembro passou a ser também o dia 1 do Guilherme. Desse meu amor mais novo que esperou pelo pai para nascer, que permitiu que a mãe se lembrasse para sempre que a amizade também se veste de cor-de-rosa pink, esse amor mais novo que nos aproxima a cada dia.

E o fim-de-semana seguiu com mais resoluções, com conversas ao almoço sobre o futuro, com a vontade de mudar, de aprender algo novo.
E ainda com mais festejos. A minha mãe festejou 57 anos novamente com um sorriso. Essa minha mãe que é tão minha. Como me comove o que dá ao meu filho, nessa repetição de transformar uma infância em algo tão doce. Como me serena o olhar do meu pai para a minha mãe, a manifestação daquele amor tão longo ainda que numa frase sem grande importância: “Pedro, vai à avó. Avó que mais parece tua tia…” Como me faz feliz tê-la como mãe e ver como a minha vida e a dela se repetem e se cruzam.  

É de dias assim que a vida se faz. Que venham mais.

Quando for grande quero ser diferente...

Passei o fim-de-semana, que foi cheio, com uma preocupação que não me diz respeito. Um fim-de-semana carregado de festejos e boas notícias mas com esse peso, o peso dos problemas dos outros, o peso dos erros dos outros. Senti necessidade de falar nisso inúmeras vezes.
Ontem descobri que me preocupo demais. As pessoas não apareceram nem à hora marcada nem a qualquer outra nem sequer telefonaram. Quando é que eu aprendo?