sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Uma ideia brilhante

"Uma ideia brilhante"
Foi o título que escolhi para a história que escrevi para ir ler à escola do Pedro. Uma história sobre um farol e pirilampos, com o protagonista Pedro, mas que cada um dos meninos levou para casa consigo no papel principal. Uma história só escrita e não ilustrada, porque o desenho não é o meu forte, e que, por isso, me obrigou a carregar um quadro enorme, com o mar, o barco e o farol da história. E a desvendar um frasco cheio de folhas, leds a piscar e grilos de plástico (porque crianças com 2 anos não distinguem pirilampos de grilos) e que fez as delícias dos mais novos, principalmente do meu, que à noite, porque os leds pirilampos continuavam a piscar, quis adormece-los no seu abraço nocturno.
Depois da leitura, veio a hora de cada um dos meninos ilustrar o seu livro. Como me derreteu que muitos dos meninos desenhassem o mar, o farol ou o faroleiro, mas também baleias e aranhas que não entravam na história. Mas com 2 anos tudo cabe em cada história.
Depois de concluída a actividade, pude brincar em cada um dos espaços daquela sala, conhecer de perto o que o Pedro me descreve tantas vezes, e ver-me obrigada pelo meu pequeno a ocupar o lugar da educadora na roda que fazem todos os dias.
Teria sido uma manhã perfeita.
Só não esperava que mal me visse a entrar, o Pedro antecipasse o meu regresso à rotina, com um choro contido e a voz trémula. Durante grande parte do tempo, o Pedro pouco mais disse do que "a mamã não pode ficar muito tempo, vai ter que ir trabalhar". Durante grande parte do tempo, o meu filho não me soube gozar plenamente, com o receio de chegar a hora de eu ir embora.
E quando fui, finalmente, chorou como nos primeiros dias de escola. Se assim não fosse, teria sido uma manhã perfeita.
O que me surpreendeu, também, é que o seu amigo Diogo, chorava também, um choro mais contido, pequenino, repetindo "Não vás, não vás". E não era um choro pela minha ausência, era, claramente, um choro solidário com o do seu amigo.
E quando isto acontece aos dois anos, é impossível, apesar de tudo, não achar que foi uma manhã perfeita.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Deitar cedo e cedo erguer...

Levantei-me porque ouvi o pequeno tossir.
Achei-o transpirado. Mudei-lhe o pijama. O pequeno continuou a dormir.
Voltei para a cama.
Levantei-me mais três vezes por causa da tosse.
O pequeno sempre a dormir. O maior também.
Tentei triturar sementes de linhaça com a varinha mágica. Não consegui.
Lavei a Bimby.
Triturei as sementes com a Bimby. Resultou.
Comi um iogurte com as sementes trituradas. Gostei. 
Voltei para a cama.
Todos continuavam a dormir.
Fui buscar água. Bebi meio litro.
Tomei banho.
Arrumei a roupa passada a ferro.
Voltei para a cama. Todos continuavam a dormir.
Vi os 60 minutos e três séries na fox life.
Levantei-me. Tomei o pequeno almoço. Arranjei-me. Vesti-me.
Fui para Santo Tirso. São 8h30 e estou a chegar a Barcelos. 

Dá para perceber que foi a maior insónia da minha vida? 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Das coisas improváveis desta gravidez

-às 18 semanas de gravidez, uma pessoa conhecida vê-me sentada e diz-me que estou mais magra (não estou!)
-tenho um dente do siso a nascer.
-às 21 semanas de gravidez continuo a dormir de barriga para baixo.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Este meu amor que é mais meu -II

Esta minha filha é mais minha do que de qualquer outra pessoa.

Pouco tempo depois do nascimento do Pedro, a propósito da gravidez de alguém que me é próximo, disse aos meus pais que não lhes perdoaria se, numa segunda gravidez minha, não “vibrassem” como na gravidez do Pedro, que não lhes perdoaria se sentisse que o meu segundo filho era menos do que o primeiro.
Mas os avisos de nada adiantaram. Contámos a notícia de uma forma bonita, planeada, por ocasião de um outro festejo, mas não houve abraços efusivos nem lágrimas nos olhos como da primeira vez.
Eu bem sei que também eu recebi a notícia de forma bem mais tranquila, mas senti-me verdadeiramente feliz, com a mesma vontade de contar ao mundo, com a mesma vontade de abraçar tudo e todos.

Confesso que fiquei desiludida com a reacção dos meus pais. Disse-lhes isso dias mais tarde e apesar da recusa de qualquer tratamento discriminatório, sinto esta gravidez de forma absolutamente diferente aos olhos dos outros.
Esta minha filha não tinha com 10 semanas de vida caixas e caixas de roupinha. Esta minha gravidez não teve uma peça importante oferecida pelos meus pais para a simbolizar. As consultas desta gravidez já ficaram marcadas por uma falta do pai (eu sei, Miguel, que ficaste triste) e por um atraso a outra tão grande que eu tive que ir ao ecógrafo duas vezes na mesma consulta. Esta minha filha não ouve o pai todas as noites, naquele sussurro que era um hábito na gravidez do Pedro.

E custa-me ainda mais pensar que hoje as coisas são mais equilibradas porque esta minha filha é uma menina. Porque só quando soubemos que era menina é que os ânimos dos outros melhoraram. Se esta minha filha fosse um menino, seria ainda mais meu filho do que de todos os outros.
Esta minha filha é mais minha.  É assim que o sinto (pelo menos), agora.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Todo o dia

Dei por mim a pensar que as primeiras letras dos nomes próprios dos meus filhos identificam os dois períodos de 12 horas de cada dia. E que juntos, PM e AM, formam os nossos dias.

Das minhas coisas (ou já estive mais longe do Magalhães de Lemos) #5

Fui eu que inventei o shampoo 2 em 1.
Era criança e tive essa ideia.
Depois algum adulto se antecipou.

Ah, mas nunca me servi da (minha) criação porque nunca usei shampoo 2 em 1.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Este meu amor que é mais meu - I

Esta minha filha é mais minha do que de qualquer outra pessoa.

Chegou-me de surpresa, contra todas as certezas, contra todas as probabilidades. Chegou-me num palpite, uma dúvida, numa ânsia, num teste feito em laboratório sem que ninguém soubesse, num telefonema com o resultado, numa espera no Tribunal. E naquele momento, num banco em que me sentei tantas vezes à espera, esperei de outro modo. E sorri, numa emoção muito mais contida do que da primeira vez, numa felicidade tão mais serena. E numa confirmação que só era minha.
Era 27, esse número que nos diz tanto, depois de um pedido no ar quente de um balão de S. João.
E como nos chegou de forma tão improvável, nem o pai entendeu o que escrevi naquele postal: “hoje, amo-vos ainda mais porque tenho dois corações em mim”.
Esta minha filha é mais minha. E não o digo em jeito de reclamar a posse de um amor, em jeito de causar inveja. Sinto-o, sinto-o muito mais com a Ana Miguel, por tantas e pequenas coisas.