terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Este meu amor que é mais meu -III

Nunca equacionei que esta gravidez não corresse tão bem como a primeira. Tanto mais que tem corrido ainda melhor.
Nunca equacionei que não fosse Fevereiro o nosso mês, o mês das Anas lá de casa.
Nunca equacionei não estar a trabalhar até à véspera de trazer a Ana noutro colo, que não este tão exclusivo.
E eu sou pessoa de planos, de agenda anotada até à exaustão, para que nada me escape.

Com 30 semanas de gravidez chorei pela primeira vez. E não foi uma coisa hormonal. Foi medo. Foi medo de não controlar o meu corpo e a hora certa do nascimento da Ana.

Sei que este amor é mais meu pelo tamanho do meu medo.
Bastavam-me as outras certezas...

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Das coisas improváveis desta gravidez - II

-Com 25 semanas, um senhor pergunta-me como está o bebezinho, referindo-se claramente a um bebé que já teria nascido!
-Não tenho dores nas costas nem sangro das gengivas.
-Tenho um olfacto mais do que apurado e isto só é improvável porque é algo quase patológico, o que não ajuda quando tenho que lidar por vezes com pessoas com hábitos de higiene pouco recomendáveis.
-Com 27 semanas ainda não usei meias de descanso e a cinta está esquecida.
-Estou com um óptimo raciocínio matemático, há quem diga que é por ter dois cérebros.

domingo, 24 de novembro de 2013

Outono


É tão fácil ser-se feliz no Outono.
É tão fácil ser-se feliz sendo criança.
É tão fácil ser-se feliz tendo por perto a liberdade.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#29

Quando pensamos em estratégias para filmar o seu acordar, porque é a coisa mais fofa que existe!
E estou a ser completamente objectiva, há muito poucas coisas tão doces como a voz rouca do Pedro, ainda no quente da cama, misturada com mimo, quando diz "vamos tomar o pequeno almoço, vamos?" É que ele diz correctamente "pequeno almoço", mas numa entoação encantadora, só dele...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Das minhas coisas (ou já estive mais longe do Magalhães de Lemos) #6

Às vezes quando não encontro um par de meias, uso meias diferentes por baixo das botas.
Depois fico com medo de, por qualquer circunstância, ter que as descalçar.

(Tenho que me deixar disto mais perto da DPP.)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O que está antes de nós - II

Antes de mim ou dos meus filhos, o amor...

O meu bisavô era ainda jovem, estudava no terceiro ano do curso de medicina, vivia com os seus pais em Portugal.
Prometeram-lhe uma noiva mas o meu bisavô preferiu acreditar no amor. No amor, na sua forma mais abstracta.
O meu bisavô não aceitou casar com a noiva escolhida. Rejeitou a imposição da família e fê-lo, não por amar outra pessoa, mas por acreditar no amor.
Num amor que viria a chegar num outro continente, para onde foi, deixando tudo, a família, os estudos, as certezas.

A nossa família só existe porque o meu bisavô acreditou no amor.
A história da nossa família é (também) uma história de amor.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O que está antes de nós - I

Nas pesquisas que ando a fazer para completar um livro sobre a história familiar do Pedro, descobri pequenas coisas sobre os meus (nossos) antepassados que me deixaram comovida.
E são só pequenas coisas...

O meu tretravô era marinheiro.
Eu nasci em terra de marinheiros, a minha infância foi passada com salitre no corpo e maresia nos cabelos. E, ainda assim, o mar nunca me foi muito próximo. Não o é, pelo menos, na minha vida adulta. Há anos que não dou um mergulho no "mar do Norte".
Mas o meu Pedro, ooh, como eu noto que o corpo do Pedro é um corpo de marinheiro, que se atreve nas ondas, que se bate com bravura contra o frio do mar, que se encoraja nas rochas, que apanha peixinhos com as mãos com uma habilidade surpreendente.
Eu sei que o Pedro é uma criança, só uma criança. Que é por ser criança que não teme as ondas nem o frio, que é por ser criança que não tem consciência de que não se pode roubar a água aos peixes e trazê-los na mão.
Mas quando soube que o meu tretravô era marinheiro, num escrito que a minha mãe e a minha avó ignoravam, comovi-me. Porque o que está antes de nós, às vezes, faz tanto sentido...
Talvez o que está antes de nós tenha o sentido que nós lhe queremos dar. Ainda assim, faz todo o sentido. E isso deixa-me mesmo feliz.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Uma ideia brilhante

"Uma ideia brilhante"
Foi o título que escolhi para a história que escrevi para ir ler à escola do Pedro. Uma história sobre um farol e pirilampos, com o protagonista Pedro, mas que cada um dos meninos levou para casa consigo no papel principal. Uma história só escrita e não ilustrada, porque o desenho não é o meu forte, e que, por isso, me obrigou a carregar um quadro enorme, com o mar, o barco e o farol da história. E a desvendar um frasco cheio de folhas, leds a piscar e grilos de plástico (porque crianças com 2 anos não distinguem pirilampos de grilos) e que fez as delícias dos mais novos, principalmente do meu, que à noite, porque os leds pirilampos continuavam a piscar, quis adormece-los no seu abraço nocturno.
Depois da leitura, veio a hora de cada um dos meninos ilustrar o seu livro. Como me derreteu que muitos dos meninos desenhassem o mar, o farol ou o faroleiro, mas também baleias e aranhas que não entravam na história. Mas com 2 anos tudo cabe em cada história.
Depois de concluída a actividade, pude brincar em cada um dos espaços daquela sala, conhecer de perto o que o Pedro me descreve tantas vezes, e ver-me obrigada pelo meu pequeno a ocupar o lugar da educadora na roda que fazem todos os dias.
Teria sido uma manhã perfeita.
Só não esperava que mal me visse a entrar, o Pedro antecipasse o meu regresso à rotina, com um choro contido e a voz trémula. Durante grande parte do tempo, o Pedro pouco mais disse do que "a mamã não pode ficar muito tempo, vai ter que ir trabalhar". Durante grande parte do tempo, o meu filho não me soube gozar plenamente, com o receio de chegar a hora de eu ir embora.
E quando fui, finalmente, chorou como nos primeiros dias de escola. Se assim não fosse, teria sido uma manhã perfeita.
O que me surpreendeu, também, é que o seu amigo Diogo, chorava também, um choro mais contido, pequenino, repetindo "Não vás, não vás". E não era um choro pela minha ausência, era, claramente, um choro solidário com o do seu amigo.
E quando isto acontece aos dois anos, é impossível, apesar de tudo, não achar que foi uma manhã perfeita.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Deitar cedo e cedo erguer...

Levantei-me porque ouvi o pequeno tossir.
Achei-o transpirado. Mudei-lhe o pijama. O pequeno continuou a dormir.
Voltei para a cama.
Levantei-me mais três vezes por causa da tosse.
O pequeno sempre a dormir. O maior também.
Tentei triturar sementes de linhaça com a varinha mágica. Não consegui.
Lavei a Bimby.
Triturei as sementes com a Bimby. Resultou.
Comi um iogurte com as sementes trituradas. Gostei. 
Voltei para a cama.
Todos continuavam a dormir.
Fui buscar água. Bebi meio litro.
Tomei banho.
Arrumei a roupa passada a ferro.
Voltei para a cama. Todos continuavam a dormir.
Vi os 60 minutos e três séries na fox life.
Levantei-me. Tomei o pequeno almoço. Arranjei-me. Vesti-me.
Fui para Santo Tirso. São 8h30 e estou a chegar a Barcelos. 

Dá para perceber que foi a maior insónia da minha vida? 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Das coisas improváveis desta gravidez

-às 18 semanas de gravidez, uma pessoa conhecida vê-me sentada e diz-me que estou mais magra (não estou!)
-tenho um dente do siso a nascer.
-às 21 semanas de gravidez continuo a dormir de barriga para baixo.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Este meu amor que é mais meu -II

Esta minha filha é mais minha do que de qualquer outra pessoa.

Pouco tempo depois do nascimento do Pedro, a propósito da gravidez de alguém que me é próximo, disse aos meus pais que não lhes perdoaria se, numa segunda gravidez minha, não “vibrassem” como na gravidez do Pedro, que não lhes perdoaria se sentisse que o meu segundo filho era menos do que o primeiro.
Mas os avisos de nada adiantaram. Contámos a notícia de uma forma bonita, planeada, por ocasião de um outro festejo, mas não houve abraços efusivos nem lágrimas nos olhos como da primeira vez.
Eu bem sei que também eu recebi a notícia de forma bem mais tranquila, mas senti-me verdadeiramente feliz, com a mesma vontade de contar ao mundo, com a mesma vontade de abraçar tudo e todos.

Confesso que fiquei desiludida com a reacção dos meus pais. Disse-lhes isso dias mais tarde e apesar da recusa de qualquer tratamento discriminatório, sinto esta gravidez de forma absolutamente diferente aos olhos dos outros.
Esta minha filha não tinha com 10 semanas de vida caixas e caixas de roupinha. Esta minha gravidez não teve uma peça importante oferecida pelos meus pais para a simbolizar. As consultas desta gravidez já ficaram marcadas por uma falta do pai (eu sei, Miguel, que ficaste triste) e por um atraso a outra tão grande que eu tive que ir ao ecógrafo duas vezes na mesma consulta. Esta minha filha não ouve o pai todas as noites, naquele sussurro que era um hábito na gravidez do Pedro.

E custa-me ainda mais pensar que hoje as coisas são mais equilibradas porque esta minha filha é uma menina. Porque só quando soubemos que era menina é que os ânimos dos outros melhoraram. Se esta minha filha fosse um menino, seria ainda mais meu filho do que de todos os outros.
Esta minha filha é mais minha.  É assim que o sinto (pelo menos), agora.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Todo o dia

Dei por mim a pensar que as primeiras letras dos nomes próprios dos meus filhos identificam os dois períodos de 12 horas de cada dia. E que juntos, PM e AM, formam os nossos dias.

Das minhas coisas (ou já estive mais longe do Magalhães de Lemos) #5

Fui eu que inventei o shampoo 2 em 1.
Era criança e tive essa ideia.
Depois algum adulto se antecipou.

Ah, mas nunca me servi da (minha) criação porque nunca usei shampoo 2 em 1.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Este meu amor que é mais meu - I

Esta minha filha é mais minha do que de qualquer outra pessoa.

Chegou-me de surpresa, contra todas as certezas, contra todas as probabilidades. Chegou-me num palpite, uma dúvida, numa ânsia, num teste feito em laboratório sem que ninguém soubesse, num telefonema com o resultado, numa espera no Tribunal. E naquele momento, num banco em que me sentei tantas vezes à espera, esperei de outro modo. E sorri, numa emoção muito mais contida do que da primeira vez, numa felicidade tão mais serena. E numa confirmação que só era minha.
Era 27, esse número que nos diz tanto, depois de um pedido no ar quente de um balão de S. João.
E como nos chegou de forma tão improvável, nem o pai entendeu o que escrevi naquele postal: “hoje, amo-vos ainda mais porque tenho dois corações em mim”.
Esta minha filha é mais minha. E não o digo em jeito de reclamar a posse de um amor, em jeito de causar inveja. Sinto-o, sinto-o muito mais com a Ana Miguel, por tantas e pequenas coisas.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O meu mundo mais cor-de-rosa

Imagem do pinterest

Porque já a sinto todos os dias, o meu mundo é mais cor-de-rosa.
Porque é de amor que se fala, chama-se Ana Miguel.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A cara de grávida

Tenho tanto para escrever sobre o meu amor mais pequeno, mas por tantas coisas sobre as quais ainda escreverei, quero fazê-lo com tempo e com alma.

Mas não resisto a falar da minha "cara de grávida". Para mim, a cara de grávida é aquela que se instala nos últimos tempos da gravidez, quando o nariz se assemelha ao nariz de um adolescente e a boca a uma adepta do botox labial. Para mim, a cara de grávida é aquela que nos alerta que o parto está mesmo para breve.
Por isso, quando eu estava grávida de poucas semanas, quando a barriga não era de todo visível e quando fisicamente não se notava rigorosamente nada, a não ser um cansaço extremo de que padeci, mas que podia ser bem falta de férias, e alguém da família do meu marido me disse "estás mesmo com cara de grávida", pensei: "só me faltava esta, há gente que só gosta de nos pôr para baixo". Mas só pensei, tendo-me bastado com uma resposta polida "não me parece..."

Ao falar disto às minhas amigas, uma delas disse-me que o comentário podia ser bem intencionado, que podia ter sido no bom sentido, no sentido da beleza das grávidas. Disse que não, cara de grávida é aquela que está bem expressa no dia do parto do Pedro e nos dias seguintes (como é possível!).

Há uns dias, saí de manhã e o Miguel despediu-se dizendo que estava bonita. E sinto-me bem, finalmente, verdadeiramente bem.
Entrei numa loja e a dona, que me conhece bem, elogiou o meu estado. Disse-me algo como "está mesmo bonita, nota-se mesmo na sua cara que está grávida. Está com a chamada cara de grávida".

E foi aí que percebi que o primeiro comentário poderia ter sido efectivamente um elogio. E que tenho que reformular esta imagem da cara de grávida. Pelo menos até chegar às 36 semanas. ;)

A escola

Já se passaram 22 dias desde o primeiro dia. Desde esse dia em que o Pedro entrou feliz e que desatou a correr e a soluçar quando, 2 horas depois, me viu à porta, por uma minúscula abertura. Já se passaram os dias em que o meu coração era ainda mais pequeno que o buraco da fechadura de qualquer uma das portas da escola. Já se passaram os dias de choro, depois de beicinho, e de um autocontrolo que não sei onde o Pedro foi arranjar para não chorar. Muitas vezes lhe disse que chorar não era "portar mal", muitas vezes lhe disse que a mamã também chora quando está triste, porque ainda me custava mais vê-lo nesse sofrimento silencioso do que na forma expressiva das lágrimas e dos gritos.
Tranquilizaram-me os dias em que o Pedro ia feliz, que me dizia "vamos, mamã, vamos para a minha escolinha", de como evoluiu tanto, mas tanto, na questão da alimentação, como deu bem a volta à questão do dormir, porque o Pedro na escola não dorme, só "descansa no chão" ;)
Serena-me a forma como fala da professora Joana, dizendo-me que ela gosta muito do Pedro. Fico orgulhosa do como fala do seu amigo Diogo, mas também do Vicente, do Afonso Félix que chora muito pela mamã, da Matilde, que "é bonita a todas as horas", da menina que deu chocolates (uma menina que fez anos) mas que não lhe liga, da Daniela, que tem o "cabelo dourado", da "Carrolina"... E tenho que sorrir quando o ouço a cantarolar a toda a hora, quando me diz que comeu "melancia castanha" ou "arroz de pato azul" ou quando sinto que inventa histórias e peripécias para responder às (tantas) perguntas que lhe faço.
Hoje, surpreendentemente, voltou a chorar. E eu até acho que sei o que o fez mudar, mas não esperava ver o meu coração encolher outra vez.

sábado, 7 de setembro de 2013

4

4 é o número preferido do Pedro.

Todos os dias carrega no botão 4 do elevador que nos traz a casa.
Se alguém lhe perguntar a idade, responde primeiro 4 e só depois corrige para 2.
Se lhe pedirmos um número para jogar no totoloto, não hesita em dizer 4.

Faz sentido a preferência. Também eu me rendi ao 4.
Porque 4 é o tamanho certo da nossa família.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

As férias


Tal como se acorda de um sonho doce. É assim a chegada à Herdade da Matinha.
O local prometia tranquilidade, silêncio, descanso.

Mas a verdade é que nós fomos com 3 crianças, sendo que uma, de 3 meses, é um sossego, mas as outras duas têm 2 anos e meio!
Sim, basta dizer isto: 2 anos e meio!

 

Porque são abraços demasiado apertados, empurrões, o não querer emprestar os brinquedos, o subir isto e aquilo, o correr freneticamente, o falar alto, o rir e chorar por tudo e por nada, o desafiar várias leis da física, um a não querer tomar o pequeno almoço, outro a não comer a sopa (o que eu sofri estas férias com a sopa!), o querer comer gelados como adultos não o sendo...
Os dois juntos são muito mais do que 1+1! Garanto-vos! Em todos, mas todos os sentidos.

 E nós os 7 juntos também somos qualquer coisa... ;)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

O menino podia ser sobredotado mas não é, só usou a marca de um vinho quando não sabia a resposta!

Eu: Pedro, diz as profissões à tia Aninhas. A do tio Costa?
Pedro: Sapateiro.
Eu: Da tia Ana?
Pedro: Médca. (é muito fofo a dizer médica)
Eu: Do papá?
Pedro: Engenheiro.
Eu: Da mamã?
Pedro: Dvogada.
Eu: Do avô Abílio?
Pedro: Informático.
Eu: Da avó Mi?
Pedro: ... vessátil*!

* Versátil é a marca do vinho que o meu pai tem bebido às refeições.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#28

Quando o nosso marido acorda várias vezes de um sonho a gritar "vais cair" ou mesmo fora da cama num movimento típico de um guarda-redes a fazer uma defesa incrível!

Sim, a criança está numa fase particularmente radical e o pai sofre! A mãe não, porque está com um sono demasiado pesado.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O meu Pedro de todos os lugares

Eu tenho os meus lugares. O Miguel tem os seus lugares. Aquilo que experimentamos, a forma como nos vestimos, as palavras que escolhemos para nos expressarmos, a música que ouvimos, tudo nos leva aos nossos lugares.

A vantagem de ser criança é que se é de todo o lado. O meu filho é de todos os lugares. Não importa se está num café chique de uma zona in da cidade, num pátio em Miguel Bombarda ou numa tasca na zona Ribeirinha. Não importa se com quem se cruza usa rendas na gola, um fato de treino alternativo ou um pé descalço. E o Pedro, este meu pequeno observador, que vê o mundo e o devora, nem me questiona (e eu estranho) porque é que o pai do Martim tem uma crista ou porque é que o senhor que nos diz para "estacionarmos" um pouco, estando nós a pé, traz os braços e as costas tatuadas.
O meu filho é de todos os lugares. Vejo-o adaptado a todas as pronúncias, a todos os cheiros, a todos os tratos. Aliás, nem é propriamente adaptação, é ser-se criança e pertencer-se à vida e à felicidade e ponto final. Sem que isso esteja, para já, dependente daquilo que para nós adultos é o nosso conforto, a nossa identidade.
O meu filho é de todos os lugares, porque é, antes de tudo, ele mesmo. E eu gosto tanto disso.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Não era bem isto que eu queria escrever...

23 de Julho será sempre um dia feliz.

Há 3 anos estava verdadeiramente feliz. Dos dias mais felizes de sempre.
E 3 anos depois sei que tenho (mais) motivos para ser ainda mais feliz.
Mas a felicidade da expectativa, do segredo, do querer contar, a felicidade da primeira vez, como essa não conheço.

A felicidade é mais serena hoje.

E estou mais velha. Sinto-me cansada. Custa-me subir escadas e até me sinto com falta de ar.
Quando me olho ao espelho do elevador acho-me mesmo mais velha.
Comentei isso com o meu pequeno e ele disse que sim, que a mamã estava velhinha.

Ainda assim, 23 de Julho será sempre um dia feliz.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

Imaginem...

Imaginem um filho eléctrico. Daqueles filhos sem qualquer distúrbio comportamental mas cheio de genica. Que nunca parou. Até porque quando começou a andar, começou logo a correr! E um filho que agora está na fase da escalada. Que chega aos sítios mais inesperados.
Agora imaginem esse filho doente por uns dias.
Não, não ficou calminho, ficou igual. Continuou a correr, a saltar, a fazer asneiras.
Agora imaginem esse filho a tomar ventilan.
Não, não ficou calminho, ficou pior. Não dormiu uma noite inteira. Não dormiu mesmo. Usou a noite para brincar, para trepar ao que ainda não tinha trepado, para tirar todas as almofadas do lugar e para espalhar as centenas de carros que tem. Usou a noite para beber "kekinho" (leite), sumo, água, mais "kekinho", para ir ao pote e para ver as estrelas.
Imaginem um efeito secundário do ventilan, raro, no vosso filho.
Sim, imaginem.

Sorte a vossa. Também eu gostava só de imaginar. 

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#27

...mas com gostos musicais de um adulto, quando o pequeno passa a vida a cantarolar:

"I wonder, na na na na, I wonder"
"Tocam os sinos na torre da igueja, há arroz menino e..."
"Que seja agora, que seja agora"

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Das minhas coisas (ou já estive mais longe do Magalhães de Lemos) #4

Sei que seria capaz de comer, de uma vez só, 5 kilos de chocolate de boa qualidade.

Já apostei com as minhas amigas: oferecem-me os 5 kilos e eu provo!
Não sei se por não confiarem em mim ou se por serem verdadeiramente minhas amigas e temerem pelo meu fígado, não me deixam avançar com a aposta.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

S. João


O sítio que reservei para as minhas fotografias não é este.
Mas esta fotografia diz (-me) tanto.

O S. João é a minha festa. É a festa da minha cidade do coração. Lembro-me desde sempre do cheiro das sardinhas, do sabor dos pimentos assados, da musicalidade dos martelos na cabeça, da dança das pessoas, num movimento de umas contra as outras. Lembro-me de tudo isto e era ainda pequena. Num tempo em que o meu pai me levava às cavalitas e eu via o Porto, assim, em festa, lá de cima, como quem vai ao miradouro da Vitória e o recebe no peito.
No Domingo de manhã, caminhei durante 4 horas e meia por esta cidade que se preparava, mais uma vez, para tudo isto e lembrei-me dessa minha infância. Lembrei-me de como se é feliz na infância com tão pouco.
À noite, às 00h00, o meu filho, enquanto lançávamos os balões, disse-me mais uma vez como se é feliz na infância.
E em cada balão um desejo. Uma infância.


terça-feira, 25 de junho de 2013

Os carros

A paixão começou pela forma circular das rodas. Antes de gostar de carros, o Pedro venerava as rodas. Depois do pormenor foi para o todo. A paixão expandiu-se.
Com 2 anos e 3 meses sabe quase todas as marcas de carros, distingue um clássico de um carro normal e sabe, entre as centenas (sim são centenas, espalhadas por 3 casas) de carros que tem o que quer.
Mas ontem, quando o ouvia brincar sozinho, foi inevitável pensar em como está grande o meu Pedro e como já sabe mais do que eu nestas coisas do automobilismo...

"um acidente e o carro capotou"
"o carro fez um peão"
"o carro verde dos pneus slick"

Sim, o meu filho sabe o que são pneus slick. Eu só o aprendi com 32 anos...

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Das minhas coisas (ou já estive mais longe do Magalhães de Lemos) #3

A minha primeira marca de guerra nas andanças da fotografia foi uma queimadura na mama.
E estava a fotografar vestida.

(A parte da loucura foi fotografar água perto de uma lâmpada!)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Picnic




O dia estava nublado, de um cinzento instalado. O sol insistiu em não nos aquecer os corpos. O vento, mais frio do que seria expectável em Junho, não nos deixou tirar os casacos. Faltaram os rissóis e os panados, sobraram as quiches. Faltou chocolate. O Pedro caiu e magoou-se no nariz logo que chegámos ao Parque da Cidade. A bola gigante rebentou. Os cataventos dos meninos não resistiram à fúria de um e de outro índio. Terminámos o picnic, não sentados numa toalha no chão, mas à volta de uma mesa.

Nem todos os nossos planos correm na perfeição.
Mas nós, juntos, bastamo-nos. E juntos somos, sempre, perfeitos.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Das minhas coisas (ou já estive mais longe do Magalhães de Lemos) #2

Tenho a firme convicção de que ordeno a informação no meu cérebro por ordem alfabética.

Muitas vezes não me lembro de um determinado nome mas sei por que letra começa. Outras vezes sei a letra inicial e uma ou outra das restantes...

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Dos sonhos

Esta noite sonhei com a minha família.

Era um dia de fim-de-semana, o sol queimava-me as costas enquanto brincava com o meu filho à entrada da casa dos meus pais. O Miguel a meu lado. Os meus pais, a minha avó, o meu padrinho e um tio lá dentro, todos fora do meu ângulo de visão, mas presentes. De um momento para o outro vejo 3 primos meus, irmãos entre si, as suas mulheres e marido e o meu afilhado e o irmão. Uma surpresa. Chegaram sem avisar, de uma viagem longa, para realizarem uma prova de comida (o que é que nos passa pela cabeça enquanto dormimos?). Entrámos. Mais risos. Mais conversa sobre a comida, sobre os doces. O meu primo/irmão afinal também lá estava. E abraçamo-nos. Todos. Todos mesmo. Como é raro as famílias se abraçarem assim. Enquanto os sentia a todos, tão juntos, ao som do riso compulsivo do meu filho, pensava que alguém deveria estar a registar fotograficamente aquele abraço. Afasto-me para pegar na câmara fotográfica. E reparo que o meu tio, com 70 anos acabados de fazer, chorava de felicidade. Comovo-me sempre que vejo alguém chorar. A coisa piora quando é um homem e quando tem rugas na cara. E, quando percebo o choro do meu tio, choro de felicidade, é certo, começo eu a chorar compulsivamente.
Acordo.
No meu sonho estávamos felizes.
E não hesitámos em abraçarmo-nos. Falta-nos tantas vezes um abraço a quem temos como certo.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Devem ser mesmo felizes

Antes de sair para o jantar, numa terça-feira como outra qualquer, sem que alguém fizesse anos ou sem que houvesse motivos para festejos especiais, alguém me disse "devem ser mesmo felizes".
Devemos. Somos.
Somos, porque só assim nos dispomos a reunir 15 adultos e 9 (sim 9!) crianças, entre os 6 anos e um mês de idade, numa mesa longa, num dia de semana, com trabalho e escolinha no dia seguinte.
Somos, porque é destas coisas que a nossa amizade/felicidade se faz.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Ser irmão

Ver o meu filho no colo do meu afilhado, 7 anos mais velho, ou sentado entre as suas pernas, vê-lo puxar-lhe a mão, para que o siga, vê-lo repetir o seu nome para que preste atenção ao que faz, e sempre feliz, uma felicidade diferente da que se sente quando são os adultos a dar-lhe colo ou atenção, ver tudo isto faz-me perceber como é bom ser o irmão mais novo. Como é bom ser irmão. E faz-me ter mais certezas de que quero, um dia, ter dessa felicidade em nossa casa, todos os dias.

Admito que pela excepcional doçura e cuidado do meu afilhado tudo me pareça muito cor-de-rosa...

terça-feira, 28 de maio de 2013

Meu amor Miguel - II

Perguntei-te várias vezes porque é que me amavas. Perguntei-te várias vezes porque é que era eu a tua mulher e não outra. Fugias às respostas. Não és bom a escolher as palavras para dares um nome ao que sentes.
Mas isso era dantes, quando pensava que tudo tinha que ter uma razão, um nome, uma fórmula. Aprendi contigo, nestes tantos anos que fazemos nossos, que o amor é mesmo assim, indescritível, indecifrável, acientífico.
Nem eu sei dar nome ao que nós somos juntos. Mas sei bem como se sente. E isso basta-me.

Parabéns!
[És (o) melhor. A cada ano tenho-o mais certo.]

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#26

Quando somos "obrigados" a sair de casa com a máscara do Gaspar na cara!

Aspectos positivos:
-não me cruzei com nenhum vizinho, só com automobilistas desconhecidos.
-enquanto eu cantarolava no carro a música do Avô Cantigas, o Pedro acompanhava-me com a expressão "fantasminha Ramalhão"!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Miguel

Escrevi-o há uma semana e um dia, 7 de Maio de 2013

Miguel,
Gosto de imaginar que poderias ter chegado aos nossos braços num cestinho carregado por um cavalo, esse animal que o teu irmão venera. Gosto de imaginar que poderias ter chegado no bico de uma andorinha, essa ave que me diz tanto, a mim e à tua mãe. Gosto de imaginar que poderias ter chegado num salto, no prolongamento dos braços do teu pai ou do teu tio Miguel. Gosto de imaginar que poderias ter chegado num carro, de rodas fortes e de cores vibrantes, como o teu primo Pedro desejaria.
Gosto de imaginar. É assim esta tua tia, de ideias no ar, vindas do coração.
Mas sei bem como chegaste:chegaste pela tua mãe, que é minha irmã, e, por isso, mal ouvi a tua descrição, reconheci-te como meu. O meu corpo, através dos meus olhos, mais brilhantes hoje, da minha pele, mais arrepiada hoje, do meu sorriso, mais aberto hoje, do meu coração, mais intenso hoje, não me deixou enganar: 7 de Maio de 2013, o dia em que tu, também meu, me chegaste.
E não sei se os nomes fazem as pessoas, mas sei que há nomes que se escrevem de uma forma e se sentem de outra. Como o teu, Miguel, especialmente como o teu, que pronuncio e escrevo tantas vezes e que me sabe sempre a Amor.
Que me saibas sempre a Amor.
Que faças esse o teu primeiro nome.

 
Ilustração The art studio

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Aquela que farei amanhã, é também a minha resposta

"Qual das minhas fotografias é a minha favorita?
Aquela que farei amanhã."
                                             Imogen Cunningham

Precisava de trazer arte às minhas mãos. Precisava de aprender, de ouvir algo novo com atenção, deixar-me ser absorvida. Precisava de ter uma desculpa para procurar lugares novos, expressões únicas, pormenores, significados. Precisava de um motivo para me levantar mais cedo ou para sair mais cedo do trabalho e não regressar de imediato a casa. Precisava de começar do zero e sentir-me crescer.
Um curso de 3 meses de fotografia dá-me, para já, tudo isso. E gosto tanto.
Acho que se nota nesta fotografia, tirada em modo manual, em que a escolha da lente, da abertura do diafragma e do tempo de exposição não foi arbitrária, não foi um acaso nem uma feliz coincidência do modo automático.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

O açúcar das palavras

Já não é novidade como ando derretida com esta fase do meu pequeno. Gosto tanto das nossas conversas, do seu sentido criativo, do seu jeito malandro, dos seus momentos de mimo. E até nas birras, que se repetem, não fosse ele uma criança normal, consigo encontrar um filho cheio de garra e a crescer.

Mas de tudo o que se faz o meu pequeno, gabo-lhe as palavras. Essas cheias de açúcar. E que dizem mais do que as suas letras. "Com o que me dizes, meu amor, poderia escrever a minha melhor história."

Em conversa a propósito das várias tias do Pedro grávidas no momento.

...
Pedro: A tia Ana também tem um bebé!
Eu: Tem, também vai precisar de colo, porque o Miguel é pequenino"
Pedro: A mamã não tem um bebé barriga, a tia Ana tem!
Eu:  Não tenho, mas querias?
Pedro: Sim. O bebé da barriga da mamã é o bebé do Pedro.

(não estou grávida, mas esta é a primeira manifestação de amor do meu pequeno pelo seu futuro irmão e eu adoro!)

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Mariana

"Pequenina"
Foi assim que o Pedro te descreveu, Mariana. Hoje, quando fizeste maior o dia 18 de Abril. Quando fizeste maior o meu amor: por ti, pelo teu pai, que é tão meu, pela nossa família.

"Cor de rosa"
Foi assim que o Pedro também te descreveu, Mariana. Hoje, nesse lugar onde nasci, onde o vento é mais forte e nos entranha o sal, nesse fim de tarde de céu limpo, quando o sol sabe ser cor-de-rosa, como os sonhos, como tu.

Que as coincidências que encontro em tantos lugares permitam confirmar que nada é por acaso. Porque o amor, Mariana, nunca é um acaso. Para mim é o meu maior propósito.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Às minhas amigas

Há um dia em que preparamos tudo com cuidado, com amor, com pequenas coisas cheias de significado, há um dia em que conseguimos realmente surpreender as nossas amigas e, mesmo assim, somos nós que acabamos com as lágrimas nos olhos.

Só nos superamos porque quem está ao nosso lado o merece.
No meu pulso, os vossos/nossos corações.



Fotografias por Filipa Alves

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Agora sim!

Parte deste texto foi escrito a 4 de Julho de 2012, quando os receios eram outros…

Desde muito pequena que aprendi a lidar com a diferença, porque a profissão da minha mãe me fez conviver, desde cedo, com crianças portadoras das mais diversas deficiências. Isso fez-me tolerante à diferença e deu-me, parece-me, uma aptidão mais apurada para com isso lidar. Ao ponto de me acontecerem coisas estranhas, inexplicáveis mesmo, como ser acarinhada por um menino autista, o que só fazia a quem já conhecia há muito tempo, intencionalmente, sem deixar dúvida de que de mim gostava, logo na primeira vez que me viu.
Tudo isto me fazia pensar, muito antes de sequer pensar seriamente em ter filhos, que um dia a aleatoriedade destas coisas me poderia apanhar, exactamente por esta maior capacidade de estar alerta, de intervir, de reagir, de cuidar de alguém diferente. Sem que com isso o desejasse, sem que sequer questionasse a possibilidade de escolher sempre um bebé saudável, nem que com isso tivesse que prescindir do que me tivesse calhado no decurso de uma gravidez.
Como se a história se repetisse.
O que a minha mãe mais desejou foi um filho saudável e perfeito. Uma gravidez de risco e os 5 meses de repouso forçado trouxeram-lhe a angústia de que assim poderia não ser. Angústia maior por ter conhecimento directo de situações complicadas que começaram da mesma forma, mas uma capacidade maior, pela sua experiência profissional, de reconhecer problemas, de agir, de cuidar, de amar um filho na sua diferença. Foi só um susto, mas que lhe deixou marcas, ao ponto de não mais querer engravidar, sendo essa a razão da minha condição de filha única.
Curiosamente, quando engravidei este receio não se pôs. Nem por um momento equacionei não ter um filho perfeito.

O Pedro nasceu e é o meu filho perfeito.

Mas a primeira inquietude chegou quando percebi claramente que não reagia aos estímulos auditivos como a generalidade das crianças. Sabia que ouvia exemplarmente, havia feito o rastreio auditivo, mas não dava qualquer importância aos sons das rocas nem à música nem às actividades que com ele praticávamos e que contendiam com os sons.
A segunda chegou quando me apercebi de que o Pedro era demasiado observador, que num ambiente novo, não tirava os olhos dos objectos, ignorando em absoluto as pessoas, recusando o contacto visual, ainda que se tratasse do pai ou da mãe. 
Essa foram as primeiras razões da minha visita a uma pediatra especialista em desenvolvimento infantil. Sem que em momento algum tivesse sofrido por antecipação a um diagnóstico qualquer. Vi algo de diferente, tinha dúvidas, quis apenas esclarecê-las. Saí da consulta tranquila, não sem que me tivesse sido dada a clara noção de que todas as crianças são diferentes e que, de facto, o Pedro não tinha apetência para estímulos sonoros e que era absorvido por tudo o que o rodeava. Entre uns focos no tecto do consultório e eu, o pai ou a médica, o Pedro preferiu os focos. Mesmo o Pedro não correspondendo à norma, o conselho que nos foi dado foi incentivar as brincadeiras que lhe davam mais prazer e se para isso as rocas tinham que ser postas em segundo plano, não havia qualquer problema.
De repente, sem que o Pedro tivesse sequer um único carrinho em casa, apercebemo-nos da sua adoração por rodas. Quando passeava na rua apontava para as rodas dos carros, quando nos apanhava distraídos, encantava-se com as rodas do seu próprio carrinho de passeio, fazendo-as rodar girar. Comprámos carros e não havia (não há) brinquedo que tire o lugar a um qualquer carro. Adora-os. Mas quando era mais pequeno gostava especialmente de ver a rotação das rodas. Mais tarde, tentando introduzir outros brinquedos, que a generalidade das crianças da sua idade gostam, como bolas ou puzzles de madeira, apercebi-me que o Pedro também nesses outros objectos procurava ver a rotação. A bola não servia para chutar com o pé nem atirar com a mão, apesar da insistência do pai, mas para girar sobre si. O incrível é que com 14/15 meses conseguia dar o jeitinho à mão para que as bolas girassem como gira a terra sobre um eixo. As peças do puzzle, porque têm uma pega, antes de servirem para o encaixe serviam para girar, voltando-as ao contrário e usando-as como se de um peão se tratasse. O fascinante é que, percebendo que a rotação era mais branda no tapete, virava o puzzle ao contrário para aproveitar a superfície lisa de madeira, para que a rotação ganhasse velocidade. E tudo o mais, carrinhos com o capot mais elevado eram postos de pernas para o ar para girar, tampas de tachos, peças de brincar na areia, colheres…

Essa obsessão fez-me questionar o pediatra à cautela, que, num primeiro momento por achar que estaria a exagerar não deu muita importância, mas que perante a habilidade extraordinária de pôr qualquer coisa a rodar, como espontaneamente o Pedro fez no consultório, se preocupou, pedindo-nos atenção.
Foi o que fizemos. Estar atentos. Sempre atentos.
Outras preocupações foram aparecendo ou foram-se mantendo, como o pouco contacto visual, o não responder, mesmo quando insistentemente o chamávamos, o conseguir identificar formas geométricas em tudo o que é lugar…
Repetimos consultas com a especialista em desenvolvimento infantil. Sempre a mesma sensação à saída, está tudo bem, mas importa manter a atenção.

Sei que a generalidade de quem me é próximo não entende a minha preocupação, pensa que tenho essa tendência desprezível de arranjar problemas onde não existem.
Não é assim que o vejo. Quero é antecipar quanto antes qualquer cenário. A minha mãe, que me entende, que agiria como eu, eu sei, perguntou-me um dia, à saída de uma das consultas: “mas, e se houvesse mesmo alguma coisa?” Respondi-lhe em lágrimas, do que não me gabo (porque não sei porque chorava), “eu quero é saber, para ser melhor, porque este é o meu melhor filho, tenho que ser a sua melhor mãe, à sua exacta medida.” 

Fomos mais uma vez à consulta. E desta vez não há nenhum “mas”. Agora sim!

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#25

Quando não é um bom presságio ouvir o pequeno a dizer, com cara de safado, à saída da casa de banho, "a mamã é bonita, a mamã é linda".

Sim, o meu estojo na sanita!

terça-feira, 2 de abril de 2013

O filho que pedi - I

Antes de saber o seu sexo, o seu nome, o seu exacto tom de pele, a cor dos seus olhos, a perfeição de cada pormenor do seu rosto, desejava um filho meigo, doce, que me cercasse o pescoço, que me beijasse sem pedido, que replicasse este meu jeito de mimar a cada momento.

O meu filho, este que pedi, não foi sempre assim. As suas manifestações de amor chegavam apenas em dois momentos do dia, quando me via, depois de um dia de trabalho, e me abraçava, dando-me palmadinhas nas costas, ou quando tinha sono e se enroscava no meu colo.

Com dois anos o Pedro é muito mais do que o filho que pedi. Faz-me festas na cara, sem pré-aviso, ao mesmo tempo que diz “miminhos”, beija-me a todo o instante, a cara, as mãos, as pernas, abraça-me como se fossemos um só, reclama-me a cada momento, esgota o meu nome, esse que me cabe tão bem – “mamã” – e pede-me “naninha” quando quer o meu colo em silêncio, mesmo que não feche os olhos de sono, mas de mimo.  
Com dois anos o Pedro, mais do que o filho que pedi, é o filho que mereço.

terça-feira, 26 de março de 2013

Mães reais


Projecto Ties - Mães Reais
Fotografia de Sofia Simões

Vi várias fotografias do projecto. As fotografias dizem tanto, ilustram, como disse à Sofia Simões, o nosso melhor romance. Mas as frases... As frases de cada uma das mães dizem ainda mais quanto a esta privilegiada relação.

terça-feira, 19 de março de 2013

Pais

Talvez tenha sido hoje o dia em que mais li manifestações de amor pelos pais.
Também por isso me lembrei especialmente do meu pai, que é melhor depois de ter sido avô e do pai do Pedro, que é melhor depois de ter sido pai.
E lembrei-me do meu avô materno. Lembrei-me inúmeras vezes da última vez que o beijei. Do frio da sua pele que me enrugou os lábios. Da forma demorada como me despedi. De sentir que alguém teve que me afastar para então o deixar de ver pela primeira vez para sempre.

Hoje é um dia feliz. Mas nos dias felizes sinto ainda mais a sua falta.

2. 2 dias felizes.

Queria encontrar as palavras certas para o descrever. Sinto-me tão feliz que não sei se as palavras chegam para o mostrar. O sorriso do meu filho basta. O choro do meu filho, pedindo-me “mais festa”, basta.

O Sábado começou como qualquer outro Sábado, sem que o Pedro pudesse perceber o que significa fazer dois anos. Apesar de responder prontamente “dooois” quando lhe perguntávamos quantos anos fazia, sei que respondia apenas porque assim lhe foi ensinado. Ignora o que o dia 16 de Março nos traz, a comoção com que as 11h31m daquele dia cinzento nos passou a amarrar os sentimentos, as vezes que o relembro acabado de nascer. Ignora como um dia, como outro qualquer, passou a ser, para lá do dia da sua vida, o dia das nossas vidas.
Ignora que as lágrimas me vieram aos olhos quando, nesse Sábado, no momento em que debrucei na banheira para lhe molhar o cabelo, me disse, sem que lhe tivesse feito qualquer pergunta, “a mamã é linda”. Disse-o assim, tal e qual, e nesse preciso momento senti-o em jeito de agradecimento. “Sim, sou linda, meu amor, passem os anos que passarem, sou linda por te ter dado vida. A minha beleza está marcada na cicatriz que me ficou para te ver nascer, e nos teus olhos, na tua boca, no teu queixo, na tua pele, nas tuas palavras, nos teus abraços apertados, no teu mexer do meu cabelo, na forma como cabes tão bem no meu colo.”
Por tudo o que o Pedro é, depois de eu ter passado o dia na cozinha a fazer o bolo de aniversário, o jantar e a sobremesa, não lhe podia recusar nenhum desejo quando acordasse da sesta. Acordou e pediu-nos para ir ao Porto. O dia não estava perfeito para passeios, mas com dois anos a chuva tem encanto, passear com guarda-chuva tem encanto. Quisemos subir aos Clérigos, para assim poder ter todo o Porto nos seus olhos, mas, apesar da nossa insistência, o Pedro dizia “não quero subir, quero passear”. Assim foi.
Por tudo o que o Pedro é, preparamos-lhe uma surpresa com balões luminosos no momento de cantar os parabéns. Ficou tão feliz, mas tão feliz. Nesse preciso momento percebi como conheço tão bem o meu filho. Tal era a alegria que não tivemos coragem de os lançar todos à lua. Ficaram-lhe nas mãos, rentes ao coração.



No final da festa o Pedro chorou, repetia “mais festa, mais festa”. E, como disse, isso basta-me.

O Domingo começou como outro Domingo qualquer. Já não chovia e ao abrir a janela do quarto, porque o sol era explícito, o Pedro pedia “vamos à praia, vamos ao parque.” Por tudo o que o Pedro é, apesar de termos uma festa enorme para preparar, não lhe recusamos o desejo e fomos ao parque.
À tarde, nesse dia 17, exactamente dois anos depois de o Pedro ter conhecido o seu amigo de sempre, festejamos juntos, com os amigos, o 2º aniversário dos dois “pimos”. Como se trata de uma amizade vivida ao pormenor, criámos uma festa pensada ao pormenor. Foi perfeito. Perfeito mesmo. Ainda me impressiona a amizade dos dois, ainda me impressiona como nós, as mães, somos tão parecidas nesta coisa de nos darmos ao trabalho, ainda me impressiona como os pais, apesar de não serem amigos de infância, quase o parecerem.



 
 

No final da festa o Pedro, mais uma vez, chorou e repetia “mais festa, mais festa”. E, como já disse, isso basta-me.
No final da festa, eu estava verdadeiramente feliz. Talvez também tenha chorado, de genuína alegria.

sexta-feira, 15 de março de 2013

A forma do nosso amor

Amanhã o Pedro faz 2 anos.
À semelhança do ano passado, quisemos que o aniversário ficasse gravado em linhas especiais. Depois de um retrato a óleo, uma ilustração. E diz-se tanto sobre o Pedro assim.
Diz-se tanto sobre o nosso amor.

Se o nosso amor tivesse uma forma, poderia bem ser esta: a forma de uma lua. Não de uma lua como esta, mas de uma lua CHEIA.


Ilustração de Diana Costa - The Art Studio.
www.facebook.com/iliketheartstudio.com

quarta-feira, 13 de março de 2013

O mundo simples

Encanta-me a percepção que as crianças têm das coisas. Essa forma limpa de encarar o mundo. Esse jeito transparente de o dizer.
No meu filho tudo me encanta, é verdade. No meu filho tudo me encanta ainda mais.

Ontem à noite, enquanto o Pedro bocejava.
Pai: Isso é soninho?
Pedro: Não!
Pai: Ai não!? Então é o quê?
Pedro: É abrir a boca!

segunda-feira, 11 de março de 2013

A lista da nossa mãe

Outro? Foi assim que a Sara começou o seu post.
É assim que começo o meu.
Sim, outro, porque quando alguém nos diz que gosta muito de tudo o que dizemos, não temos como negar um pedido. Obrigada, Sara.

Eu

Prato favorito: Massa em geral.
Peça de roupa e acessório: Vestidos e relógios.
Música favorita: Alma mater, Rodrigo Leão.
Flor: Frésias
Cor: Verde.
Cheiro: Café.
Livro favorito: Antologia de Sophia de Mello Breyner Andersen. Uma visita ao Jardim Botânico relembrou-me Sophia. Como me marca desde criança…
Local: Porto, as ruas do Porto, os jardins do Porto, o rio do Porto, as pontes do Porto.
Brincadeira favorita: Plasticina e bolas de sabão
Quotes mais importantes para a vida: “há ilimites que nos moram” de Fernando Alvarenga
Bolo favorito: Chocolate
Maior mentira: Sou a prima mais velha e era sempre eu a culpada. Um dia mordi a minha mão só com os dentes de baixo (porque os de cima eram grandes e não compatíveis com os do meu primo) e disse à minha avó que o Serginho me tinha mordido. Acreditou! E o Sérgio levou um castigo injusto.
Maior traquinice: Maquilhar um amigo na viagem de finalistas do 12º ano durante o sono.
Gelado favorito: Iogurte.
Profissão que queria ser: Fotógrafa.
Defeito da Mãe: Pensa demais.
Qualidade da Mãe: Dar-me ao trabalho, em tudo.

Eu e o meu filho

Fecho os olhos e a primeira imagem que tenho de ti é: No meu peito, a dormir, sereno, respiração ao meu ritmo, calor, paz.
Coisas que lhe queres ensinar: A agir, a intervir, a marcar presença e nunca deixar nada por dizer.
O que guardarias na caixa de recordações do teu filho: Tudo! Tudo o que é importante. Sou muito ligada aos objectos que fazem a nossa história. Cartas, desenhos, bilhetes de teatro e concertos para bebé…
Locais onde querias levar o teu filho: Iguaçú, por ser o local do amor maior que o fez.
Coisas que gostas que ele te diga: "A mamã, vai?". Esta forma que tem de dizer que depende de mim.
Coisas que não ias gostar que ele fizesse: Que não tivesse confiança em mim.
O que não gostas de fazer ao teu filho: De não lhe dar a atenção devida quando trago o trabalho para casa.
Queres muito que o teu filho: Seja inteiro! (outra vez)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Não dá para esconder que temos um filho pequeno...#24

Quando, procurando uma moeda esquecida na bolsinha da carteira para tirar um café na máquina do tribunal, nos sai uma bola de plasticina cor de pele.

E porque o julgamento que se seguia era de tráfico de droga, ainda ouvi um Colega dizer-me "vá lá, não é castanha".

quinta-feira, 7 de março de 2013

11, porque a Pitú pediu

Eu sei que chega com atraso. Também sei que não vou cumprir na íntegra o que a Pitú me pediu, porque não vou passar o desafio, mas à madrinha do meu pequeno não se nega nada. E aqui vai:
 
As respostas às 11 perguntas que me fez:

- Estes desafios são:
uma forma de nos darmos a conhecer e de conhecermos os outros, ainda que de uma forma superficial.
- O meu maior defeito é: ser excessivamente preocupada com os assuntos do trabalho.
- Daqui a 20 anos: serei melhor.
- Gostava de conhecer: (de ter conhecido) José Saramago e Sophia de Mello Breyner Andersen.
- Nunca me vou esquecer: do dia em que vi um arco-íris prateado em Iguaçu.
- Um dia perfeito: sem horários, sol de Inverno, café, chocolate e mimos.
- O meu maior medo é: a morte – pelo facto de “para sempre ser tempo demais”.
- Amar é: a melhor forma de ter – adaptado de uma frase de José Saramago.
- Uma casa deve ser: um sítio cheio das nossas histórias.
- Quero que o meu filho seja: inteiro.
- Ser feliz é: ser inteiro.
11 factos sobre mim (vou tentar não me repetir): sou muito dada aos pormenores, fico muitas vezes agarrada à primeira impressão que tenho das pessoas,fui muito arrumada, até ter nascido o meu filho, sou faladora, não esqueço facilmente, mas resolvo, penso seriamente em ter uma actividade profissional diferente, adoro leite creme, gosto de molhar o pão no leite (eu sei que isto não se faz, mas gosto mesmo), gostava de ter um filho não biológico, gostava de ter outro filho biológico, comovo-me muito facilmente.
 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Outra vez longe

São raras as vezes que a distância nos afasta os abraços, mas já começa a ser recorrente ter o marido fora no início do mês de Março. Por 7 dias. Pouco, para quem já se habituou a ouvir amigos e conhecidos a deixar o país por muito mais tempo. Pouco, para quem cá fica, com mimos extra dos pais e com um amor pequenino que nos absorve e nos exige estar de alma inteira. Tanto, para quem vai. Tanto, para quem pensa e sente como é tanto tempo para quem vai.

Não sou boa nas despedidas. Digo tudo o que se deve dizer, que vai passar rápido, que a vida é assim, que é pouco tempo, que estaremos sempre juntos ainda que em palavras ou em sonhos. E não choro. Mas o coração aperta-me por sentir o aperto de quem parte.
E depois, as crianças têm esse dom de nos abanar, esse jeito inconsciente de nos fazer focar no que importa. Mal o Miguel passou a porta de embarque, o Pedro correu para ver os aviões, correu para ver tudo o que um aeroporto tem de fascinante, correu porque o chão é liso e o espaço amplo. Dissemos adeus ao papá. Vimos um avião no ar e só não vimos o papá a acenar porque o avião voa mais alto dos que os pássaros e mais perto das nuvens.

Falo no papá todos os dias. Mas o Pedro não pergunta por ele. Sei que lhe sente a falta, que anseia pelas brincadeiras no banho, pelas escondidinhas, pelos saltos até ao céu que só o pai tem a habilidade de propiciar. Sei que sente que algo está diferente, a rotina alterou-se até um bocadinho mas o Pedro não questiona. Penso que será normal, acredito que não pergunte por uma questão de protecção. Ouve a voz do papá pelo menos 1 vez ao dia ao telefone, mas não lhe responde. Ontem mostrei-lhe uma fotografia do pai. Fez aquele gesto  de pedir o que está a ver na imagem (tão fofo) e choramingou. 1 segundo depois já estava a falar dos carros e da ambulância da cruz vermelha, mas voltei a sentir o coração apertado.
É que eu não sou boa nas despedidas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Serra das Estrelas

Saímos cedo de casa e os seus 23 meses, feitos nesse dia, permitiram-lhe já antever que seria um dia de passeio. Um passeio grande.
Quando lhe perguntei “sabes onde vamos?”, respondeu-me “Ponte de Lima”, porque 15 dias antes tínhamos escolhido passar o dia junto ao rio.
Tivemos tempo no caminho, antes que adormecesse e antecipasse o dia em sonhos, de lhe falar na neve, no frio, nos primos que iriam ter connosco e nesse nome bonito da Serra que o Pedro preferiu usar no plural: Serra das Estrelas.

O tempo devia permitir que gravasse para sempre aquela imagem do meu filho em espanto. O querer tocar na neve, o sentir o frio, o riso, a forma segura como caminhava, o rebolar no chão, abraçando a neve.
 
Alegria genuína. Como nunca pensei. Felicidade absoluta. Como só se sente quando se é criança. Ouvi-o dizer várias vezes “tanta neve”, como se pudesse o Pedro saber se aquilo era muito ou pouco. Tanta, porque para o meu pequeno tamanha felicidade não podia vir de pouco. Eu sei que não é verdade.
É o que mais adoro em ser mãe: fazer o meu filho feliz com quase nada.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Contradições

Não sendo crente, não fez sentido a frase que, trémula, deixei escapar: "se isto não passar de um susto, eu, eu, faço qualquer coisa importante, não sei, ajudo alguém, qualquer coisa...."
Parecia querer acreditar que se fosse só um susto e que se tudo estivesse resolvido, teria que compensar a sorte, a ajuda "divina".
Somos tão contraditórios. O desespero, então, faz-me tão contraditória...
Por isso, repetidamente, pedi desculpa esta manhã. Eu não sou assim. Eu não devo agir como agi. Ontem não fui capaz de deixar o escritório nem por um momento, nem enquanto dava o leite ao meu pequeno. Daí o meu pedido repetido de desculpa. Nem eu nem os que amo o merecem.

Quando saí do tribunal chovia. Ainda assim voltei à rua onde, minutos antes, vi uma senhora vender flores. Porque chove poucos devem parar para comprar flores. Eu parei. Eu comprei. Um molho de frésias para a minha mãe, outro para o meu marido.

  

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Estes dois

Estes dois enchem-me o coração pelo simples facto de existirem. Mas eles resolveram ir mais longe e, por diversas vezes já me vieram as lágrimas aos olhos, de alegria, daquela bem boa!
A estes 2 só lhes faltou nascerem juntos e desafiarem-se um aou outro no primeiro choro. Conheceram-se no quente da barriga das suas (lindas e maravilhosas) Mães e, desde então, é ver a amizade crescer.
Partilharam dress codes, pic nics, fotos colectivas, areia da praia e água da piscina!
É impressionante como gostam um do outro, do alto dos seus 18 meses. O Diogo gasta o nome do Pê até à exaustão, pergunta por ele, quase todos os dias desde que voltamos de férias, chora quando tem de se separar. O Pedro dança de alegria quando vê o Diogo, sorri de uma forma incrível, provoca-o em todas as suas brincadeiras, corre e espera que o Diogo o siga, esconde-se e chama para que o procure. É a verdadeira loucura quando estão juntos, brincam até ficarem de cabelo encharcado de tanto suar e ficam felizes, felizes...
Há poucas coisas boas na vida como os amigos, e ensinar a, maravilhosa, arte da amizade, desde o dia em que se nasce, é dos melhores presentes que podemos dar a um filho. Não sabemos o que o futuro lhes reserva, se um dia enjoam um do outro (ai deles...), se serão, ou não, os melhores amigos do mundo, mas por enquanto vamos bebendo um pouco desta alegria de estar por perto, deste entusiasmo e deste amor pequenino.”

                                                                                                       Ana Melancia
Este texto foi escrito há uns meses pela minha amiga Ana.
Faz sentido publicá-lo aqui, porque não escreveria melhor sobre esta amizade em jeito de irmãos.
Faz sentido relembrá-lo agora que terminamos os 4 (os pais) as visitas aos jardins infantis para os 2 pequenos. Porque quem não nos conhece, quem ignora esta amizade que tão bem a Ana descreve, “estranha-nos”.  E nós sorrimos com isso.

“Mas afinal quantos meninos são?”
"Nós não somos nenhuma família (muito) moderna. São dois meninos, um de cada um de nós, de cada casal, quero dizer."
“Que idade têm as crianças?”
"Têm dois anos. Fazem os dois em Março."

"Não precisa de passar as informações para outro cartão. Basta 1 para os 4. Nós somos mesmo amigos."
"Não precisamos de prolongamento. A nossa família é toda daqui. Os avós moram todos aqui."

E podíamos dizer que ambas as mães são Ana Cristina. Que um adulto é Pedro, que uma criança é Pedro, mas não são pai e filho. Que um adulto é Miguel e que um nascituro é Miguel, mas não são pai e filho. Que cada um dos meninos tem uma avó Adelaide e um avô Albino, mas não são avós comuns.
Mas isto baralhava um bocado mais, não?