quarta-feira, 6 de março de 2013

Outra vez longe

São raras as vezes que a distância nos afasta os abraços, mas já começa a ser recorrente ter o marido fora no início do mês de Março. Por 7 dias. Pouco, para quem já se habituou a ouvir amigos e conhecidos a deixar o país por muito mais tempo. Pouco, para quem cá fica, com mimos extra dos pais e com um amor pequenino que nos absorve e nos exige estar de alma inteira. Tanto, para quem vai. Tanto, para quem pensa e sente como é tanto tempo para quem vai.

Não sou boa nas despedidas. Digo tudo o que se deve dizer, que vai passar rápido, que a vida é assim, que é pouco tempo, que estaremos sempre juntos ainda que em palavras ou em sonhos. E não choro. Mas o coração aperta-me por sentir o aperto de quem parte.
E depois, as crianças têm esse dom de nos abanar, esse jeito inconsciente de nos fazer focar no que importa. Mal o Miguel passou a porta de embarque, o Pedro correu para ver os aviões, correu para ver tudo o que um aeroporto tem de fascinante, correu porque o chão é liso e o espaço amplo. Dissemos adeus ao papá. Vimos um avião no ar e só não vimos o papá a acenar porque o avião voa mais alto dos que os pássaros e mais perto das nuvens.

Falo no papá todos os dias. Mas o Pedro não pergunta por ele. Sei que lhe sente a falta, que anseia pelas brincadeiras no banho, pelas escondidinhas, pelos saltos até ao céu que só o pai tem a habilidade de propiciar. Sei que sente que algo está diferente, a rotina alterou-se até um bocadinho mas o Pedro não questiona. Penso que será normal, acredito que não pergunte por uma questão de protecção. Ouve a voz do papá pelo menos 1 vez ao dia ao telefone, mas não lhe responde. Ontem mostrei-lhe uma fotografia do pai. Fez aquele gesto  de pedir o que está a ver na imagem (tão fofo) e choramingou. 1 segundo depois já estava a falar dos carros e da ambulância da cruz vermelha, mas voltei a sentir o coração apertado.
É que eu não sou boa nas despedidas.

2 comentários:

  1. <3
    Ana, a tua escrita, a tua forma de expor as coisas,os sentimentos é tão bonita!
    Adoro. E nem imaginas como admiro.
    Deixas-me sem palavras. Tudo me parece pequeno...

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  2. Obrigada, Raquel. É muito bom sentir isso desse lado. Aproxima-nos. Beijinhos

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