quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Este meu amor que é mais meu -II

Esta minha filha é mais minha do que de qualquer outra pessoa.

Pouco tempo depois do nascimento do Pedro, a propósito da gravidez de alguém que me é próximo, disse aos meus pais que não lhes perdoaria se, numa segunda gravidez minha, não “vibrassem” como na gravidez do Pedro, que não lhes perdoaria se sentisse que o meu segundo filho era menos do que o primeiro.
Mas os avisos de nada adiantaram. Contámos a notícia de uma forma bonita, planeada, por ocasião de um outro festejo, mas não houve abraços efusivos nem lágrimas nos olhos como da primeira vez.
Eu bem sei que também eu recebi a notícia de forma bem mais tranquila, mas senti-me verdadeiramente feliz, com a mesma vontade de contar ao mundo, com a mesma vontade de abraçar tudo e todos.

Confesso que fiquei desiludida com a reacção dos meus pais. Disse-lhes isso dias mais tarde e apesar da recusa de qualquer tratamento discriminatório, sinto esta gravidez de forma absolutamente diferente aos olhos dos outros.
Esta minha filha não tinha com 10 semanas de vida caixas e caixas de roupinha. Esta minha gravidez não teve uma peça importante oferecida pelos meus pais para a simbolizar. As consultas desta gravidez já ficaram marcadas por uma falta do pai (eu sei, Miguel, que ficaste triste) e por um atraso a outra tão grande que eu tive que ir ao ecógrafo duas vezes na mesma consulta. Esta minha filha não ouve o pai todas as noites, naquele sussurro que era um hábito na gravidez do Pedro.

E custa-me ainda mais pensar que hoje as coisas são mais equilibradas porque esta minha filha é uma menina. Porque só quando soubemos que era menina é que os ânimos dos outros melhoraram. Se esta minha filha fosse um menino, seria ainda mais meu filho do que de todos os outros.
Esta minha filha é mais minha.  É assim que o sinto (pelo menos), agora.

7 comentários:

  1. Senti e sinto tudo isso quase diariamente... Vindo dos avós que já não se acotovelam à porta para vir visitar o Miguel, vindo do número reduzidissimo de visitas que recebi em casa aquando do nascimento, vindo do Pai que nao chega a casa com o mesmo entusiasmo de quem tem um bebé pela primeira vez e, às vezes, vindo de mim também! E, há momentos em que me sinto tão "culpada" que sinto uma necessidade maior de proteger o Miguel, de o beijar compulsivamente! Nunca seremos mães iguais como da primeira vez, como nunca serão avós, tios ou amigos iguais e, talvez isso não seja necessariamente mau. Tu terás menos tempo, às vezes terás menos colo, mas vais ter outra calma e serenidade, menos dúvidas e ansiedades e (isto é mesmo verdade) vais aproveitar pequenas coisas com outra intensidade porque vais ter a noção real de como o tempo passa rápido e como, num abrir e fechar de olhos, a Ana deixa de ser uma recém nascida, deixa de ser uma bebé...

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    1. Eu sei, minha querida, que és tu quem melhor me compreende. Somos tão gémeas que até nisto de um segundo filho vamos passando por situações parecidas, que o "politicamente correcto" faz calar. Mas a nós não e é por isso que eu sei aproveitar a tua sábia experiência e fortalecer-me com isso. Obrigada.

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  2. Compreendo-te no sentido em que comigo também tudo tem sido diferente. Os meus pais, aliás, a minha família em geral tiveram uma reacção muito mais efusiva desta vez. Mas também senti a desilusão de todos eles por ser outra menina, apesar de nós pais, estarmos muito felizes por isso. Estou a ser seguida só no público e fiz pouquíssimas ecos em comparação com a Bárbara, o que me faz sentir um pouco "desnaturada" em relação a esta bebé. Mas ninguém compreende esta minha angústia, talvez porque é a segunda filha, e talvez porque já deva saber como é. Mas acho que no fundo no fundo, o que interessa é o nosso sentir. Sentirmo-nos no direito de estar superhipermega felizes, mesmo que para os outros pareça de menos importância. E não sei se interessa, mas estou tão feliz por ti. Beijinhos

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    1. Sara, é mesmo isso, é a sensação de que para os outros esta segunda felicidade é de "segunda", de menos importância, como dizes. E claro que me interessa que estejas feliz por mim. E são estas nossas coincidências que merecem a marcação de um lanchinho um dia destes, para os nossos filhos pequenos e ainda mais pequenos se conheçam. ;) Beijinhos

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    2. A combinar, sem dúvida! :) Beijinhos

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  3. Na minha cabeça nunca coube a possibilidade de ser Mãe de 1, tvz por isso nunca tenha sentido a angustia de amar um mais que o outro, porque estou convicta que tenho mais do que 1 filho porque os amo e porque me parece ser a melhor maneira de os ensinar a amar. E eles vieram... em alturas muito diferentes da nossa vida de núcleo familiar, que no caso da primeira foi muito reflexo do que se vivia no nucleo familiar alargado de tios e avós. Mas tvz também por isso me faça muito bem pensar naquilo que foi a minha vida enquanto irmã: sou a segunda de 5 e tenho consciência que cada um teve um tratamento diferente ao longo da sua vida, porque somos diferentes de feitio e porque os nossos pais estavam em fases diferentes da vida deles quando cada um de nós nasceu, os meus pais foram pais pela primeira vez aos 23 e 24 anos, não tinham carro, não havia ecografos nem epidural, trabalhavam os dois e era uma menina, e pela quinta vez foram pais de surpresa aos 38 e 39, tinham 4 filhAs, 2 delas já adolescentes, era um rapaz e soubesse ainda na gravidez pq havia ecografos e epidural e só o meu pai trabalhava. Seria impossível viver a noticia, a gravidez e tudo o que se seguiu da mesma maneira. Somos 5 filhos, cada um fez o seu percurso escolar e profissional diferente e de forma independente, cada um desenvolveu a sua personalidade e hoje acho graça quando a minha Mãe diz que é dificil saber a melhor maneira de dizer a mesma coisa de 5 maneiras diferentes, pq cada um irá reagir à sua maneira. Tudo isto para dizer que para mim não é preciso tratarmos os nossos filhos de forma igual, não é preciso esperarmos as mesmas reacções daqueles que nos rodeiam, o que é preciso é que eles são especiais, especiais porque são o nº 1, o nº 2 ou o nº 3, mas sem que nenhum seja prioritário. Boa sorte nesta fase, e menos angustia, porque estou certa que quer para a Ana quer para o Pedro o melhor presente que alguma vez vão ter será o irmão e isso só é possível porque sabem que sendo diferentes têm sempre tratamentos especiais :)

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  4. Eu penso assim....passo a explicar..Um é teu filho e meu afilhado. Outra, será tua filha e minha boneca :)
    Senão, compro vestidos e laços para quem???

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