sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Senti nas mãos a minha avó

Ontem senti nas mãos a minha avó Belinha.

A minha avó Belinha não me viu crescer de perto, apesar de as nossas casas estarem a não mais do que 15 minutos de carro. Não fez bolos comigo. Não me beijou sem razão.
Tenho pena que assim tenha sido.
Mas não me sinto responsável por isso.
Porque, apesar de a vida se ter traçado assim, sempre ouvi com curiosidade as histórias que tanto gostava de contar dos seus tempos de mulher bonita (e tão bonita que foi, dando razão ao nome pelo qual a chamavam), as histórias do meu pai, as histórias do meu avô, de quem se divorciou num tempo em que não se permitia às mulheres fazerem-no.
Porque, apesar de a vida se ter traçado assim, por várias vezes lhe fiz a sobremesa que queria ou, mesmo sem me pedir, os scones de que tanto gostava.
Porque, apesar de a vida se ter traçado assim, sempre insisti para que o meu pai fosse mais presente.
Arrependo-me apenas de não ter acedido ao seu pedido de me arranjar as unhas no dia do meu casamento.
A minha avó era pedicure. A melhor que conheci. Trabalhou anos num salão, continuou a fazê-lo em casa para as clientes mais fiéis. Arranjou-me os pés várias vezes, ensinou-me truques preciosos, principalmente para quem, como eu, tanto sofre dos pés.
Ontem uma das minhas unhas deu sinais da falta da intervenção da minha avó. Fiz exactamente o que me ensinou (poupo os detalhes menos agradáveis). Parece-me perfeito o resultado. Só porque tive nas mãos a minha avó, por um bocadinho.

1 comentário:

  1. São tantos e tantos os dias que penso na minha avó.

    Arrependo-me tanto das vezes que já não me apetecia ouvir as estórias do antigamente e não lhe prestei a atenção que merecia. Mas a vida é mesmo assim. Nunca conseguirei dizer "não me arrependo de nada".

    Beijinho grande

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