terça-feira, 4 de setembro de 2012

O que os olhos não vêem...

Ontem foi noite de birras. Nenhum drama, porque o pequeno está na idade disso, porque já li imensa coisa sobre o assunto, porque estou psicologicamente preparada para me manter firme, abraçá-lo quando começa com aquela dança tribal, que até me faz esboçar um sorriso, consolá-lo quando passa para o choro, mas sempre repetindo "não, não se faz isso..."
O motivo? O pequeno não reagiu bem ao facto de lhe inibir esta nova tendência para atirar carros pelo ar, atingindo os mais descuidados, como o caso do meu pé, que já é de fraca qualidade e que por isso não precisava de um downgrade.
O outro motivo? (esta já sou eu a dar numa de psicóloga) As férias acabaram e ontem foi o primeiro dia do regresso à rotina, sem ter os pais permanentemente presentes.

Ora então a cena começa com dois carros, um em cada mão do Pedro, uma contagem interior do género "em 3, 2, 1" (sou eu a ficcionar a coisa, mas parece mesmo), e lançamento de carros.

Eu: Não! (em voz grossa, quase que não me reconheço) Depois já no tom normal: Não se atira os carros para o ar! Estragas os carros, estragas o chão e, sem querer, ainda magoaste o pé da mamã.

Pedro: Inicia a dança tribal, que é uma dança em que sincroniza os pés e os braços, abana-os freneticamente, não saindo praticamente do lugar. Depois chora, chora mesmo, com lágrimas, como se se tratasse da maior injustiça coartar-lhe o jeito que tem para o lançamento de carros.

Eu: Não, filho, não se atira os carros, sempre abraçando-o e falando-lhe com calma.

Take 2: igualzinho, sem a parte de me atingir o pé, porque já estava de sobreaviso.

Take 3: idem, mas agora fica sem os carros. Chora mais. Depois de o serenar, já não estando a chorar, devolvo-lhe os carros.

Take 4: Faz o gesto, como se os fosse atirar, mas diz "não, não" (fofo que só visto), faz segunda vez o gesto, mas sempre dizendo "não, não". Sai da sala, vai para o hall de entrada, achando que estava longe da minha vista e atira os carros sem eu supostamente o ver.

Não fiz nada. Não o repreendi. O que os olhos não vêem o coração não sente... ;)
Não sei se fiz bem, mas a verdade é que o Pedro compreendeu o que lhe disse, não quis deixar de o fazer por mais uma vez, quase numa tentativa de sair vencedor, ainda que no anonimato. Isso acalmou-o, voltou à sala, trouxe os carros e eles passaram a circular rasteiramente.

3 comentários:

  1. Adoro esta forma amorosa como os miúdos (pensam que) nos dão a volta. Mas esta é a prova de como, sem dramas, como tu própria o disseste, geriste muito bem a situação. A meu ver, ninguém perdeu.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  2. O meu Pê é lindo! Imagino mesmo que tiveste de te controlar para não o lambuzar algures no take 4. Custa tanto não desatar a rir! E sabes bem que eu acho que fizeste tudo super bem. Rima e é verdade!
    Cá por casa o regresso à rotina também trouxe um momento menos simpático: ir para a cama era tudo o que ele não queria! Nada que um miminho extra não resolva!

    ResponderEliminar
  3. :) a mim parece-me que geriste tudo muito bem!
    nem me imagino (daqui a muito pouco tempo) a saber fazer estas gestões! tenho que começar a ler, a procurar...

    ResponderEliminar