quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Do silêncio dos dias tristes

Fica-se em silêncio nos dias tristes.

A minha avó morreu num dia que deveria ser de alegria. Não estava doente, não houve pré-aviso, não houve tempo. Morreu velhinha.
Entrei novamente no Hospital que me fez nascer. Percorri outra vez as ruas da Póvoa com os meus pais. Voltei à Igreja do Largo do Tribunal. Repetições que se fazem em silêncio.
Entrei na casa dos meus avós pela primeira vez sem que ninguém a ocupasse. Deixei de ter avós vivos. Novidades que se fazem em silêncio.

Fica-se em silêncio nos dias tristes.
Mas o Padre, que não conhecia a minha avó, mas que a descreveu na perfeição, pediu que algum filho ou neto falasse. Ninguém merecia que eu ficasse em silêncio, nem a minha avó, nem a minha mãe, nem os meus tios, nem os meus primos.
Lembrei-me da fotografia do meu baptizado. A fotografia colectiva à porta da Igreja, os convidados todos, os abraços, os sorrisos. A minha avó não estava. Durante anos não entendia porque é que a minha avó não aparecia na fotografia. Logo a minha avó, que tanto quis que eu fosse baptizada. A minha avó ficou em casa a preparar a minha festa. Fez a comida, o bolo, organizou a mesa. A minha avó era assim: sempre primeiro os outros, sempre tão dedicada, tão querida.
Foi o que nos deixou de melhor, a sua absoluta dedicação.  


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