terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Amor Fernando

Este é um dos principais capítulos do amor e andava há anos para o pôr por escrito. Hoje fala-se em todo lado de amor, eu escolhi fazer o mesmo.
O meu avô materno, o meu avô Fernando, esteve presente fisicamente em apenas metade da minha vida mas, passados quase 15 anos da sua morte, ainda o sinto tão perto. Revejo-o todos os dias sempre que me vejo ao espelho, porque herdei a sua covinha do queixo. Reconheço o mesmo traço sempre que me consolo a dar leite ao Pedro e lhe limpo o queixo. E dou por mim, tantas vezes, a dizer ao Pedro de como o que é está, também, no que o meu avô foi. Porque eu sou, também, um pouco daquilo que o meu avô me deixou. E tenho tantas saudades... Precisava tanto que tivesse sabido que tinha escolhido o curso de direito, como ansiava, que tinha casado com alguém que só viu uma vez mas que admiraria certamente, que tenho um filho que é especial, porque é tão nosso.
Precisava que soubesse como me faz falta e que quando lhe disse, da última vez que o vi consciente, sem poder imaginar que no dia seguinte daria entrada no hospital, que gostava muito dele, que muito era mesmo muito. É tanto...
O meu avô não era do seu tempo. Recordo as manifestações de amor que tinha com a minha avó e que a deixavam envergonhada. Recordo a história que contava de ter oferecido à minha mãe, com cerca de 17 anos, um cigarro, para que fumasse à mesa e não às escondidas. Recordo- me do fascínio que sentia por, ingénua, acreditar, como dizia, que já tinha sido médico, por ter tido intervenção em alguns dos partos dos filhos, e padre, por ter celebrado um casamento.
O meu avô está em mim, foi quem me deu o primeiro banho, ensinou-me a rir, a fazer partidas, incentivou-me a dizer o que pensava, mesmo que isso contrariasse a sua "autoridade" dos 57 anos que nos separavam.
E é disto que sou feita e era isso que gostava que soubesse.
Talvez soubesse mesmo, quem me é próximo diz que sim. Porque esperou que o fosse ver, já inconsciente, sem que eu tivesse conseguido dizer o que quer que fosse, apenas o tendo tocado com as mãos e os lábios, esperou, dizia, para ceder ao que tinha de melhor, o coração.

6 comentários:

  1. E é com os olhos molhados, que me fazes escrever, para partilhar contigo a saudade dum avô, também Fernando e da sua amada Elvira. temos sorte de guardar estas memórias e, mais sorte ainda, porque sabemos que os nossos pequenos também terão!

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    1. Que linda homenagem, Ana!
      Certamente que o teu avô, ficaria orgulhoso de ti e babadíssimo com o teu filhote.
      Eu acredito que enquanto nos lembrarmos com amor, dos que já partiram, eles continuam vivos, porque conquistaram um lugar especial, sem tempo, nem espaço, no nosso coração. São "imortais" :)
      Beijinho.

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  2. Anita Melancia, eu sei que és como eu, que te agarras ao que está para trás e que traz saudades. O teu avô não conheci, mas a tua avó era de certeza especial e relembro, muitas vezes, a forma sentida e emocionada como a tua tia dela se despediu.

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  3. Ana, é mesmo isso. Acho que nós vivemos para lá da morte, enquanto formos recordados pela memória dos outros.
    A homenagem ao meu avô, que neste dia faz todo o sentido, estava por fazer há muito, mas tudo se precipitou depois de ter lido o teu texto sobre o teu pai. Não há como o que fica escrito...

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  4. Ana, as lágrimas voltaram-me a correr, tal como acontecia sempre quando me despedia dele. Tivemos a sorte de ter um avô como ele.
    Gisela

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  5. Gi, como eu me lembro dessas despedidas. De ser bem mais nova do que tu e não perceber como é que uma prima mais velha não conseguia conter as lágrimas. Hoje percebo. Hoje sei que os nossos avós mereciam lágrimas a cada despedida. E sim, foi mesmo uma sorte termos um avô assim.

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