quinta-feira, 26 de julho de 2012

E se a minha infância se resumisse a uma imagem



Poderia bem ser esta.
Porque foi uma infância doce.
Porque foi uma infância marcada por rituais.
Porque foi uma infância com rasgos de surpresa, euforia, maluquice pura.

Tinha eu cerca de 6 anos e, ritualmente, acompanhava o meu pai e a minha mãe para o café após o jantar. Café de beira de estrada, junto a uma bomba de gasolina. Ou seja, charme? Nenhum. Mas nem é isso que importa quando somos crianças.
Os meus pais sempre foram algo permissivos quanto à minha alimentação. Não me lembro de me ser recusado um chocolate (mal! É por isso que hoje sou dependente), um gelado (só não podia ser calipo, sei lá porquê), um sumo.
E por isso, quase a cada noite, me era permitido fazer um furinho e esperar pela cor da bolinha para saber que chocolate me caberia. Tanto fazia. Gostava de todos. Mas era uma emoção, nesses milésimos de segundos de espera ansiava pela bolinha prateada ou dourada, que me trariam um chocolate enorme.

Não deixa de ser curioso como estas lembranças me trazem o empolgamento da altura. É tão fácil ser feliz em criança.
Depois, de vez em quando, num acto absolutamente irracional, o meu pai deixava-me fazer vários furos de uma vez, até mais de 10, porque quem fizesse o último furo, tinha como acréscimo um grande conjunto de chocolates. Como eu vibrava com a loucura do meu pai. “Mesmo, pai? Todos?” Lembro-me tão bem que o espanto que me assolava estava também no rosto do empregado do café. E recordo a voz da minha mãe, ao longe, sem se impor propriamente, mas a lançar algo como “não têm mesmo juízo”.

E não tínhamos. E a infância é feita de dias assim. Em que se perde o juízo para se ganhar a noite, regressando a casa carregada de chocolates.
Cresci e deixei de acompanhar os meus pais ao café com a mesma regularidade.
Um dia reparei que a máquina dos furinhos (eu sei que aquilo não é uma máquina mas era assim que a chamava) já lá não estava.
Nem lá nem em lado nenhum.

Passaram-se anos até ter repetido a emoção, desta vez com amigas, numa feira em Viana. Lembro-me que senti o mesmo entusiasmo e que telefonei aos meus pais para lhes dar conta que, por mais uns minutos, voltei à infância.
Hoje, voltei mais uma vez. Só por causa desta imagem. Obrigada Susanita.

3 comentários:

  1. Chocolates da "Regina"... tantas memórias :)

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  2. Oh pá... ando há séculos para te enviar esta imagem, mas isto d eir ao facebocas só no telefone (que não é iphone)não permite partilhas!
    apesar de não ter estado contigo nessa altura, esta máquina fez-me lembrar a tua infância!

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  3. Finalmente descobri de onde vem o vicio :)

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