sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eu, a espécie rara.


Pensei muito antes de publicar este post, porque é algo de muito pessoal e porque a minha perspectiva e experiência sobre a questão são muito diferentes de tudo o que tenho visto escrito ou dito. Acho, até, que o que escrevo é, mesmo, politicamente incorrecto, porque não se esperam palavras destas vindas de uma mãe… ou direi mulher ou direi as duas coisas?

Li no blog da Ana Melancia um post que se iniciava com uma frase do Eduardo Sá:
“É fundamental que a relação amorosa dos pais esteja em primeiro lugar, antes da relação dos pais com as crianças”.

Comentei o post, dizendo que discordava, porque o que penso é que cada uma das relações devem andar lado a lado, devem pesar-se uma e outra de forma equitativa e não dar mais importância a qualquer uma delas.
Entendo, tal como a Ana respondeu ao meu comentário, que o que o Eduardo Sá pretendia era alertar para o facto de, recorrentemente, se descurar a relação do casal pelo embriagamento de sentimentos que um filho nos traz, mas, mesmo assim, acho que a frase merecia uma reformulação.
Certo é que o aviso faz sentido porque já pude constatar, tantas vezes, neste universo enorme de mães e pais que conheço, que na generalidade das vezes a relação do casal sai desfalcada perante a relação com os filhos.

Mas é aqui que entra a espécie rara: eu!

De todas as vezes que o assunto foi abordado, sempre senti que o primeiro lugar do pódio ia para a relação com os filhos, mas que disso se queixavam os pais (diga-se, os homens) e não as mães. Ou seja, que o amor imensurável de uma mãe pelo filho abafava aos poucos a relação do casal.
No meu caso foi ao contrário.
Quem se sentiu incompreendida por uma ausência que não esperava, quem se queixou desta sensação de afastamento, quem não aceitou passivamente o desequilíbrio das relações fui eu.
Por vezes, equacionei, até, se o meu amor pelo meu filho, que me parecia tão genuíno, tão das entranhas, não o seria afinal, por não me satisfazer na plenitude, por ainda assim ter saudades de um tempo em que eramos dois.
E foi esta espécie rara que insistiu para marcar um jantar a dois, um ou dois meses após o nascimento do Pedro, que insistiu para que o Pedro ficasse uma noite com os avós, que se deu conta que 10 meses depois ainda nem tínhamos ido ao cinema…
Aos 14 meses do Pedro, sinto mudanças, mas este sentimento de espécie rara está-me agarrado. Porque nunca ouvi nenhuma mulher queixar-se disto, nunca vi nenhuma mulher lutar tanto para que as relações se equilibrassem.

É, posso ser espécie rara, mas, para lá de transparente, a minha persistência tem vindo a dar frutos. E é o que importa.  

7 comentários:

  1. Eu faço parte da sua espécie rara! Também eu sempre senti necessidade de os deixar, como comentei no blog da melancia deixei a minha filha mais velha aos 9 meses uma semana! Acho que esta nossa espécie é saudável! Espero que os nossos filhos nunca se resintam dela... porque para mim é muito importante que a relação dos Pais cresça saudável.
    MA

    ResponderEliminar
  2. Tu, minha adorada espécie rara, escolheste para marido uma espécie, também ela rara.
    No fundo, no fundo e pensando um bocadinho, não me espanta! o senhor teu marido (também ele muito adorado por mim) é diferente da maioria ( e atenção que não me estou a queixar), tem uma sensibilidade muito própria, um coração muito dado e tem uma personalidade "cuidadora". Passo a citar: Nocas, não vás por aí que é perigoso; Nocas, não corras que te vais magoar; Nocas, isso é muito arriscado... and so on, and so on. Para além desta sua maneira de ser, ama-te para além do além, e habituou-te a um mimo muito próprio! Entretanto surge o adorável Pedro, aquela pessoa pequenina que, em abono da verdade, precisa de mais CUIDADOS do que tu e o Miguel apaixonou-se como não imaginava ser possível, pela segunda vez! E "perdeu-se" aí pelo meio!
    É verdade que não é o "normal" a acontecer nestas alturas, mas por isso é que é bom ler a diferença. Quem sabe se não anda aí uma qualquer Mãe com esses remorços iguais aos teus, questionando-se acerca da genuidade do amor ao seu filho? Além do mais, as verdades nunca são politicamente incorrectas. Incorrecto é esconder para parecer igual ao resto, incorrecto seria não insistires com o senhor teu marido (quem está do lado de lá agradece a insistência)!

    ResponderEliminar
  3. Minha querida adorada Ana,
    O teu comentário é de uma precisão irrepreensível. Só por isso me arrependo de não ter falado contigo sobre isto antes, quando as coisas ainda estavam frescas.

    E MA, dá um certo consolo não estar sozinha nestas coisas das espécies raras.

    Beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Não poderia concordar mais contigo. Partilho tanto do que escreves neste post... Beijinho

    ResponderEliminar
  5. Não tenho filhos. Sou filha única. Mas cresci a ouvir os meus pais dizerem que são a pessoa mais importante da vida um do outro e juntos tiverem a pessoa mais importante da sua vida a dois! Nunca me senti menos amada por isso. Mas sempre soube que há um espaço deles para além do meu. E gosto!

    ResponderEliminar
  6. Mafalda,
    Sábios os teus pais por encontrarem as palavras certas para falarem dos amores de que somos feitos.
    Vou guardar a frase dos teus pais e fazê-la minha, digo, fazê-la nossa.

    ResponderEliminar
  7. Não, Ana, não és uma espécie rara.
    Sinto tanto do que aqui está!
    E sabes porquê!? Porque tal como diz a Mafas, os meus pais sempre foram a pessoa mais importante da vida um do outro. E nós (eu e o meu irmão) somos dois amores novos que nasceram desse amor grande. E somos tão amados, mimados, acarinhados, queridos...
    E cada vez gosto mais de ver/ouvir/constatar que eles são assim.
    Gosto disso.
    Gostava muito de ter isso.
    Um beijo enorme ♥

    (e obrigada por este texto, mesmo!)

    ResponderEliminar