quinta-feira, 21 de junho de 2012

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Esta semana iniciou-se com a notícia da morte de uma colega de profissão. 41 anos. Pais e marido inconsoláveis. Há uns 2 anos teve uma gravidez que chegou ao fim, mas nunca teve o seu bebé com vida nos braços.
E entre tantas conversas sobre a injustiça da vida, do que não se espera, do incompreensível, ouvi “ainda bem que o bebé não nasceu, que dor ficar sem mãe tão pequeno, como seria difícil para aquele marido (pai) criar o filho”.
E disse eu, de rajada, “ainda mal”. Logo me vindo à memória um período difícil que vivi pouco depois de ter casado.

Sou filha única. Coube-me a mim receber sozinha o amor imenso dos meus pais, as suas expectativas, os seus planos.
Saí pela primeira vez de casa dos meus pais quando casei. Os preparativos do casamento, a felicidade pós lua-de-mel, a vida nova, tão nossa encheram-me a alma durante algum tempo.
E depois veio uma tristeza. Não por ter saudades de viver com os meus pais. Não por não ser feliz com o Miguel. Aliás, ao contrário do que muitos esperavam por ser filha única e muito ligada aos meus pais, adaptei-me muito bem à minha independência e à nossa vida a dois.
Veio uma tristeza diferente.
Não sei como isto se diz de outra forma, mas a tristeza de morrer e de fazer falta aos meus pais. Não tanto ao Miguel, não tanto à minha família alargada, não tanto aos meus amigos. Porque para todos eles existiria sempre algo ainda, existiria futuro, vida pela frente, mais amor, mais amizade.

E o que restaria aos meus pais?
O que resta a qualquer pai, em que vê no seu filho uma extensão do que é, quando este lhe falta? Nada. Não resta nada.
E pensava muito nisso por não ter, ao tempo, ainda, descendência. De mim, ao tempo, se algo me acontecesse, só ficariam memórias.

Hoje vivo mais serena relativamente a esse receio, porque hoje existe o Pedro. E nele estou eu também.

5 comentários:

  1. Não cheguei a saber desse teu medo, mas agora faz todo o sentido! Porque acredito, mesmo, que não reste nada, não importe nada, não queiram mais nada.
    E, apesar do Pedro transportar um bocado de ti, tenho a certeza que não te substituiu no coração dos teus pais!

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  2. Disso também tenho a certeza. Um dia destes, nas nossas corridas, falo-te desse meu antigo medo e do que a minha mãe me disse.

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  3. Esse era e ainda continua a ser (ainda que tenha ganho a vontade de ser mãe) um dos meus maiores medos em engravidar! O de piorar e deixar um filho sem mãe...parecia-me de tal crueldade que muitas vezes ponderei o assunto! Depois com o tempo, as conversas e as muitas insistências de muitos que até percebem do assunto, pensei que se algo acontecer, não podia ter melhor pai para o criar! E ele e quem fica ficariam para sempre com um pedaço de mim :)

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  4. Vocês fazem-me chorar e sem saber o que dizer à Carolina que, apesar de ternurenta, exige explicações para as lágrimas.

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  5. ;) sei o que é isso...
    Um beijinho, meu bem!

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