terça-feira, 12 de junho de 2012

Dar-me ao trabalho


Pré-aviso: este post é algo (muito) imodesto, mas depois de uma conversa com a minha secretária e de um telefonema de um cliente que me acabou por tratar por “meu anjo”, não resisti.
Em resposta a uma pergunta da Mum’s the boss no seu blog sobre a nossa “missão” por cá, acabei por escrever que era mesmo boa a “dar-me ao trabalho”.

E sou.

Profissionalmente, esfarrapo-me quando tem que ser, mesmo que não tenha qualquer compensação monetária por isso. Causas grandes ou causas pequenas recebem exactamente o mesmo empenho, se é de justiça que estamos a falar. Se a questão estiver relacionada com crianças, vou ao limite, ao limite mesmo, não deixo nada por fazer, procuro tudo, vou para lá do politicamente correcto para que não fique eu com um problema de consciência que poderia ser evitado com uma decisão mais célere.
Aos meus familiares, nunca nego um beijo, um abraço, um mimo. Escrevo-lhes muito, para que um dia, quando cá já não estiver, o meu amor se continue a manifestar através das minhas palavras. Mesmo ao meu pai, que é feito de outra massa, tão diferente da minha, a quem preciso de arrancar um beijo, para lá do abraço e do beijo a cada dia, lhe vou dizendo, de quando em quando, que o adoro, para que se habitue a este amor dito e não contido.

Ao meu amor Miguel, pelo amor em pormenor que lhe vou revelando desde há 13 anos. E sempre me surpreendo com esta capacidade de reinventar o amor em pequenas coisas, nem que seja na surpresa das surpresas que lhe rouba lágrimas ou numas meias novas pelas que rasga a cada semana.
Ao meu amor Pedro, pelas promessas que lhe faço em silêncio, por continuar a brincar mesmo quando os meus olhos insistem em cerrar tal o cansaço, por procurar dar-lhe a conhecer o mundo, num mergulho de piscina, num movimento teatral, no cheiro da terra, nos sons dos patos, do piano, da guitarra, no girar das rodas, na colher de gelado dos mais diversos sabores, no rebolar do chão, ainda que se suje tanto que não me deixe dúvidas de que as nódoas persistirão (ainda não foi inventado detergente tão eficaz) mas que é feliz e que nada do que é bom na vida lhe é negado.

Aos meus amigos, dou-me ao trabalho de lhes mostrar como é rara esta amizade que nos calhou, fica dito nos abraços, nos beijos, nos postais, nas cartas antigas, nas sms sem especial razão, nos lanches, nos jantares, nos almoços de Domingo, nos risos, nos choros.

Aos meus outros familiares não tão próximos, quando planeio uma surpresa daquelas, perfeita mesma, bem sabendo que quem o devia fazer não o faria, bem sabendo que por mim não haveria tanto empenho.
Aos outros, que não me são nada, dou-me ao trabalho quando acho que o merecem, seja ao arrumador de carros que foge de mim para não me pedir moeda, mas que um dia precisou de ajuda, seja à neta do sapateiro, que, de outro modo, não teria um ovo de chocolate na Páscoa.

Aos animais, pelo cuidado que lhes dediquei sempre que me caíram nas mãos. É uma coisa mesmo curiosa, mas parece que tenho uma certa queda para salvadora de bichos: já salvei um gato que caiu da chaminé de uma casa de férias no Algarve, um melro que caiu do ninho antes do tempo, um periquito que me entrou pela sala dentro enquanto estudava, um agarponis azul quando, num dia triste, ia tomar um café e o vi no chão da estrada, na linha contínua, e fiz parar o trânsito, em pleno Porto.
Tudo isto sai-me do corpo, mas compensa. Ou seja, dou-me ao trabalho pelos outros e por mim.

7 comentários:

  1. beautiful, tu és beautiful!
    E uma inspiração, também!
    deviamos dar-nos mais ao trabalho, nao era?
    beijinho

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    1. Obrigada pelas tuas palavras, mas se há pessoa que se dá ao trabalho és tu. Conheço-te há tão pouco tempo e já o sei tão bem.
      Beijinho

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  2. Verdade! Verdade! Verdade!
    E fizeste-me chorar por termos uma coisa em comum e eu não ser capaz de, tal como tu, arrancar abraços e beijos de quem tem se habituou a um amor contido. Minha querida, em tantas coisas me inspiraste nestes nossos tantos anos, e quem sabe se amanhã não tento mudar um bocadinho e fazer como tu.

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  3. Quanto a isso que temos em comum, consola-me ver que com o meu filho é diferente e sei que com o Diogo também o é, porque, se é quem eu estou a pensar, também já o vi.
    Quanto aos nossos tantos anos foram eles que me fizeram assim e se há pessoa que não precisa de mudar nem um bocadinho nestas coisas de se dar ao trabalho és tu. Nisso acho mesmo, mesmo, que somos absolutamente gémeas siamesas.

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  4. e os teus amigos agradecem que sejas assim...Especial!

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  5. E os teus amigos agradecem que sejas assim...Especial!

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  6. Inchas-me o coração, com as tuas palavras <3
    Incha de verdade, de orgulho e de alegria!
    Porque és mesmo assim: dedicada no amor, na amizade, na maternidade. Dedicada a viver, e a fazer viver, o melhor possível!
    E, enquanto te escrevo este recadinho de "Gosto taaaanto de ti e do Pedro e do Miguel", o meu icoiso lembrou-me de que hoje é dia 16, dia de vos dar os Parabéns, por mais um mês de amor*****

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